Vivenda do Mate adota cultivo consorciado com araucárias e protege bioma no Paraná

por | dez 3, 2024

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Projetos de empresas agrícolas da região valorizam erva-mate como um símbolo socioeconômico do Sul do Brasil, mantêm práticas de agricultura regenerativa e fortalecem capacitação dos produtores rurais

Projetos com base na erva-mate têm criado estratégias para as práticas de agricultura regenerativa, manutenção da cultura local e redução das emissões de gases de efeito estufa. A produção da planta  da família das aquifoliáceas se espalha pelas regiões do Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Argentina e Paraguai. O Cogemate (Conselho Gestor da Erva Mate do Vale do Iguaçu), no sudoeste do Paraná, criado em 2019, é referência na produção sustentável com o uso das boas práticas agrícolas.

Nei Antônio Kukla, engenheiro agrônomo e presidente da entidade, contou ao Integridade ESG que as ações do órgão integram o cultivo do mate à sustentabilidade ambiental, ajudam a manter práticas de conservação do bioma, contribuem com o sequestro de CO2 e ajudam a oferecer um produto diferenciado em termos de sabor e suavidade.

“Representamos cerca de 12 mil produtores e contamos com as parcerias da Embrapa Florestas, indústrias beneficiadoras, Prefeituras, Amsulpar, Ancespar, Associações de Produtores, Sistema Faep, Senar Pr”, completa Nei.

Diferente das várias explorações agrícolas, a erva-mate sombreada mantém e preserva os remanescentes florestais, sequestra os gases de efeito estufa, diminui a erosão, aumenta a infiltração de água no solo e promove a sua regeneração. Há ainda diminuição da quantidade de adubos sintéticos e uma melhora do microclima local.

“Dentro das diretrizes de organização da cadeia produtiva, promoção de políticas públicas e boas práticas agrícolas de produção de erva mate, estimulamos o uso de produtos biológicos no controle de pragas, e contribuímos com os órgãos parceiros como a Embrapa Florestas”, conta Kukla.

O sistema de cultivo da erva-mate sombreada vem de encontro com as questões ambientais, sociais e de governança.

“Infelizmente tem alguns produtores que utilizam agrotóxicos no manejo do erval, o que é proibido. Por isso é necessário ter um engajamento maior da indústria para atingir o objetivo específico, que é a produção da erva mate sustentável,” indica.

Empreendimento familiar adota práticas dos três pilares ESG

A união de negócios, ESG e sustentabilidade tem o apoio de empresas, como o Vivenda do Mate, um empreendimento familiar localizado em São Mateus do Sul, no Paraná. O projeto é coordenado por Eva Blaszczyk, quinta geração de produtores da região e consultora em turismo. Atualmente, ela atua no desenvolvimento de iniciativas que conectam sustentabilidade, cultura local, turismo e inovação.

A empreendedora relatou ao Integridade ESG que tem dedicado especial atenção à valorização da erva-mate, um símbolo cultural e econômico do Sul do Brasil. A ideia é promover práticas sustentáveis que respeitem o meio ambiente e fortaleçam as comunidades locais. O projeto foi idealizado em 2019 e oficializado em 2021 com o primeiro lote processado no pacote. Antes a erva era comercializada para as indústrias locais e elas processavam o produto.

A produção utiliza métodos como a diversificação de culturas, práticas agroflorestais e a recuperação de áreas degradadas. 

“A erva-mate é colhida no inverno e passa por um processo de secagem lenta, fragmentação e repouso, o que resulta em sabores e aromas únicos”, exemplifica Eva.

A empresa incentiva técnicas como o cultivo consorciado com outras espécies nativas (araucária, imbuia, cedro, bracatinga, guabiroba), a adubação orgânica e o manejo sustentável da floresta. Elas melhoram a qualidade do solo, aumentam a biodiversidade e promovem um ciclo produtivo regenerador do meio ambiente ao invés de degradá-lo.

“Pretendemos nos tornar um modelo para a produção agrícola sustentável. Queremos demonstrar como é possível gerar impacto positivo local e global, contribuindo para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. A combinação de inovação, tradição e sustentabilidade é uma ponte entre o passado, o presente e o futuro, uma referência para iniciativas que buscam regenerar o planeta enquanto promovem o bem-estar das comunidades”, comenta Eva.

Conquista do selo IG atesta atributos ecológicos que agregam qualidade

A proposta da Vivenda do Mate incorpora os princípios da agenda ESG de forma integrada, com práticas regenerativas, sistemas agroflorestais, a redução de emissões de carbono, a proteção da biodiversidade e recuperação das áreas degradadas. No pilar social, colabora para a capacitação dos produtores envolvidos no projeto, gera emprego e fortalece a comunidade.

“Criamos oportunidades de renda para agricultores e produtores, preservamos a cultura, mantemos as práticas tradicionais, além de estimular a educação ambiental e inspirar os moradores da importância da conservação”, lembra.

No pilar da governança, a empresa trabalha em conformidade com certificações ambientais e éticas, garantindo transparência e rastreabilidade em toda a cadeia produtiva.

“O selo IG garante que a erva-mate local carregue atributos exclusivos, como o manejo tradicional sob a sombra das araucárias, o clima e o solo que conferem sabor e qualidade diferenciados ao produto. Essa certificação é um patrimônio cultural e ambiental que destaca a região como referência na produção”, completa Eva.

A busca pelo selo se deu durante a realização do doutorado de Blaszczyk em 2022, a partir do cumprimento de regras estabelecidas pelo conselho regulador, que possui um caderno de campo validado pelo INPI.

O esforço tem rendido frutos, como a medalha de prata no Brasil Beer Cup 2024, pelo uso da erva-mate como sua matéria-prima.

“Estamos em busca de novas colaborações com empresas de diferentes setores que vejam na erva-mate um ingrediente versátil e sustentável para as suas criações. Vamos investir no diálogo com empresas de gastronomia, bebidas e cosméticos, mostrando o seu potencial como um ingrediente que combina inovação, tradição e sustentabilidade”, conta.

Enfrentamento das mudanças climáticas

O projeto tem feito a diferença com relação ao enfrentamento das mudanças climáticas por implementar práticas agrícolas regenerativas e integrar a economia local de forma consciente e inclusiva. O cultivo de erva-mate sob a sombra de araucárias ajuda a capturar e a armazenar o carbono da atmosfera no solo e na vegetação, contribuindo para a redução do efeito estufa.

Além disso, a manutenção da Mata Atlântica e das araucárias evita o desmatamento, que é uma das principais fontes de emissão de gases de efeito estufa. Fora isso, a agricultura regenerativa restaura a saúde do solo, aumentando sua capacidade de reter carbono e reduzir a emissão de gases.

“O projeto preserva a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos essenciais, como o equilíbrio hídrico e a regulação climática. Solos saudáveis também são mais resilientes a extremos climáticos, como secas ou enchentes. Evitar o uso intensivo de insumos químicos e adotar técnicas de manejo sustentável diminui a pegada da produção e protege recursos naturais”, finaliza Blaszczyk.

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