Por Kelly Nascimento, editora de Bioma
Uma nova tentativa de entrar na rota da economia verde está em curso no Brasil. São três letrinhas que representam novas práticas para buscar o equilíbrio entre desenvolvimento e sustentabilidade. ESG hoje é agenda global. E vem crescendo nos últimos três anos.
A adoção de critérios ambientais, sociais e de governança (ESG, do inglês “environment, social and governance”) para a avaliação de empresas e investimentos parece estar definitivamente incorporada na pauta das gestoras e bancos brasileiros. A movimentação, capitaneada pelo mercado financeiro, pode ser lida como uma evolução do investimento ético.
Túnel do tempo
Essa modalidade data do século 18, quando alguns grupos religiosos proibiram seus membros de lucrarem com o tráfico de escravos. Assim como o ESG, essa forma de aplicação se baseia no tripé meio ambiente, sociedade e governança para definir que tipo de negócio merece receber estímulo financeiro. Para o mercado, o conceito de ESG é valorizado pelo potencial de trazer estabilidade.
Consciência ambiental ou senso de preservação, mesclada a amor ao capital? Um pouco de cada! Há praticamente uma unanimidade em torno da ameaça que o aquecimento global representa para os negócios. E também para a vida na Terra. Se não mudarmos nossa forma de se relacionar com o planeta, acabaremos “expulsos” dele. A previsão é de elevação da temperatura de 3 a 4 graus, um cenário também com consequências desastrosas tanto para a produção econômica quanto para a alimentícia no mundo.

Ainda dá tempo de reverter esse cenário. Da parte de investidores e empresas, a difusão do ESG é a materialização dessa tomada de consciência para ação. Especialistas apontam que este pode ser o ponto de inflexão, início da transição para um capitalismo mais sustentável e inclusivo.
Segundo relatório da XP Investimentos, em todo o mundo há mais de US$ 30 trilhões em ativos gerenciados por fundos que definiram estratégias sustentáveis. Na Europa, metade do total investido segue esse critério. A tendência vem se disseminando aqui no Brasil também. O despertar, digamos, foi acelerado pela pandemia de coronavírus, que teve o efeito de evidenciar a interdependência de nações, indivíduos e empresas, bem como a importância do equilíbrio da natureza para nossa sobrevivência na Terra. E as empresas que não se adaptarem a este novo cenário ficarão para trás.
Mudança global
Para Rômulo Sampaio, professor da FGV Direito Rio, a popularização do ESG em território nacional é explicada por dois fatores: novas diretrizes de investimentos adotadas pela União Europeia em 2019 e a eleição de Joe Biden para a Presidência dos Estados Unidos em 2020.
Sampaio destaca que a mudança capitaneada pela União Europeia colocou pressão no mercado financeiro. “Isso foi transferido para as grandes empresas, que dependem desses investimentos, seja no mercado de capitais, seja quando elas vão ao mercado fazer uma debênture para se capitalizar, ou seja, quando vão a uma instituição financeira para se capitalizar a fim de fazer um projeto”, exemplifica.
Como resultado, houve uma mudança no jeito de pensar do mercado corporativo. Como se muda um comportamento? Mexendo no incentivo.
Os executivos começam a ter atrelado a seus bônus os impactos positivos que a empresa consegue efetivamente demonstrar em matéria socioambiental. “A partir do momento em que isso faz com que o bônus dele seja mais alto, ele vai ter o incentivo correto para demonstrar ao acionista que ele teve um impacto socioambiental positivo”, diz Sampaio.

O empurrãozinho que faltava para a consolidação do ESG veio das urnas norte-americanas. “De ordem mais política internacional, a eleição de Biden foi decisiva para consolidação desse novo mindset global. O novo presidente dos Estados Unidos entra numa agenda pesada na área do clima, trazendo elementos que estão no cerne da pauta ESG”, complementa.
Questão de sobrevivência
Estados Unidos e União Europeia têm uma relação comercial poderosa. A junção desses acontecimentos tem o efeito catalisador para a agenda ESG. E, apesar do governo Bolsonaro, o Brasil não ficará imune a essa onda verde. É que as multinacionais brasileiras dependem do comércio global para escoar sua produção. Isso vale ainda mais para os negócios mais dependentes da natureza, como mineração e agroindústria.
Na avaliação de Alexandre Raimundo, professor no ISAE – Escola de Negócios, a reação será em cadeia. As PMEs não ficarão de fora. “Conheço muitas empresas pequenas e médias que têm ação interessante, sustentável. O que importa não é mais o tamanho, mas o nível da consciência. Quando comecei a trabalhar com sustentabilidade, no final da década de 90, quando falava da questão com empresários, ele devolvia: eu vou ganhar o quê com isso? Hoje a pergunta é outra: se eu não entrar nessa eu perco o quê?”
Entre os exemplos de empresas brasileiras que se destacam na rota ESG estão Boticário, Copel, Sanepar e Natura. A lista não para de crescer. 
É fato que, para as empresas brasileiras, há uma mudança de chave, com o aumento da conscientização de que a sustentabilidade deve permear a cultura corporativa, não mais ficando isolada em uma só gerência. Transversatilidade é a palavra-chave para essa nova fase de consciência global. As gerações futuras agradecem.
Link original: https://bioma.insightnet.com.br/verde-e-a-cor-do-dinheiro