Foco da luta feminina no país mudou da inserção no mercado de trabalho para a conquista de funções mais elevadas, como a de membro de Conselhos de Administração, defende uma das empresárias mais influentes do país em conversa com o Integridade ESG
A igualdade salarial entre mulheres e homens já está prevista na Constituição Federal e na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). No entanto, este direito não é integralmente cumprido. Segundo o IBGE, mulheres ganham 20% menos que os homens exercendo os mesmos cargos. Isso significa que, em média, as mulheres precisam trabalhar dois meses a mais por ano para receber o mesmo que o homem. Essa diferença, no entanto, está com os dias contados no que depender da lei e de uma das mulheres mais influentes da América Latina, Luzia Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza. Pelo sétimo ano consecutivo, ela foi eleita a líder de negócio com a melhor reputação do país, segundo o ranking de Reputação Corporativa e de Líderes 2023, da consultoria espanhola Merc.
Em entrevista exclusiva ao Integridade ESG, Luiza Helena Trajano comenta que a legislação vai ajudar muito. Ela se refere à Lei da Igualdade Salarial entre mulheres e homens, que engloba a Lei 14.611/2023, o Decreto 11.795/2023 e a Portaria 3.714/2023, criados com o intuito de corrigir tais lacunas, combater e eliminar as disparidades salariais baseadas em gênero e proporcionar maior segurança para as mulheres.
“Nossa luta mudou. Nós já conseguimos inseri-las no mercado de trabalho. Chegou a nossa vez. Agora nós precisamos colocar mais mulheres em altos cargos”
A empresária listada em 2021 pela revista Time como uma das 100 mulheres mais influentes do mundo conversou com o Integridade ESG durante a apresentação das finalistas do Prêmio Unlock Her Future edição Latam 2024, criado pela The Bicester Collection. Abaixo, principais trechos da entrevista com Luiza Helena:
Perguntada sobre o que acha da situação atual da diversidade de gênero no mercado de trabalho, a Trajano, considerada uma inspiração para as mulheres brasileiras, reconhece os avanços e diz que é hora de focar em cargos mais elevados.
“Cresceu muito. Agora não é mais só pela presença da mulher no mercado de trabalho, mas para dar altos cargos para mulheres e negros. Agora é pular para 50% de participação de mulheres na política, nos Conselhos de Administração”, comenta.
Para ela, o foco da luta feminina no país agora é outro.
“Nossa luta mudou. Nós já conseguimos inseri-las no mercado de trabalho. Chegou a nossa vez. Agora nós precisamos colocar mais mulheres em altos cargos”, ressalta.
Trajano acredita que a nova legislação vai beneficiar a luta pela igualdade salarial.
“Agora já tem uma lei que vai ajudar muito. Precisamos ter mulheres no mercado e, para ter mulheres, precisamos pagar igual. É um dever”, resume ela, que sofreu ataques na internet em 2020, quando lançou um programa de trainee exclusivo para candidatos negros na Magalu.
Entre seus principais projetos de 2024, Luiza Trajano enumera projetos dedicados à luta contra a violência contra a mulher.
“Meus planos são continuar no Magalu. Lógico, pois faço um trabalho lá e no Mulheres do Brasil, um grupo criado em 2013 por 40 mulheres de diferentes segmentos com o intuito de engajar a sociedade civil na conquista de melhorias para o país. Hoje, estamos com 130 mil mulheres no mundo e a nossa causa mundial é terminar com a violência contra a mulher e meninos em cinco anos”, explica, referindo-se grupo político suprapartidário que preside e que conta com 113 núcleos nacionais e 42 internacionais
O grupo Mulheres do Brasil reúne diversos comitês voltados para temas específicos, como sustentabilidade, agronegócio, +60 e esportes. O comitê voltado para políticas públicas defende a participação maior da mulher nas esferas de poder, monitorando candidaturas e campanhas políticas de mulheres para identificar suas dificuldades.
Prêmio Unlock Her Future Latam apoia startups brasileiras
O intuito do prêmio é destacar mulheres empreendedoras sociais em toda América Latina, independentemente da idade. O foco são as mulheres com ideias inspiradoras em estágio inicial para impulsionar a sociedade no âmbito social, cultural e ambiental, alinhado com os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU.
Duas startups brasileiras são finalistas do prêmio, que dará US$ 100 mil a projetos de impacto social. Uma delas é a Phycolabs, fundada por Thamires Pontes com a missão de desenvolver produtos e tecnologias que exploram o potencial das algas como alternativa sustentável para substituir petroquímicos. A outra é Colorar, criada por Gabriela de Sá, criadora de um aplicativo de apoio a mulheres no Brasil e na América Latina que enfrentam violência doméstica, com serviços que vão desde denúncia até educação para independência financeira das usuárias impactadas.