Enquanto cerco internacional ao plástico aumenta, green tech nacional segue expandindo produção e faturamento em Curitiba
O bioplástico é uma solução mais amigável ao meio ambiente do que o plástico comum, de origem fóssil. Enquanto um pode ser decomposto em 90 dias na natureza, o outro chega a poluir o meio ambiente por 400 anos. Por isso, o material produzido a partir de compostos biodegradáveis vem ganhando força como alternativa, principalmente, às embalagens alimentícias e de cosméticos, impulsionando negócios como a Earth Renewable Technologies (ERT). Esta green tech dobrou o seu faturamento em 2022, frente a 2021, com previsão de repetir o feito este ano segundo seu presidente, Kim Gurtensten Fabri (foto).
Segundo ele, a produção mundial de plásticos supera hoje as 500 mil toneladas por ano, das quais apenas 1% do total é composta por bioplásticos. No entanto, a previsão é de este material oocupar 40% do mercado até 2030, ano-alvo das metas de redução de gases de efeito estufa capazes de conter o aquecimento global. Especificamente os bioplásticos compostáveis deverão chegar a 20% do total, segundo o CEO da ERT, que falou ao Integridade ESG neste Dia Mundial do Meio Ambiente (5/6), cujo tema é #CombataAPoluiçãoPlástica.

Ao comentar a iniciativa da ONU de criar um tratado internacional contra a poluição plástica, em que a reciclagem tem ganhado importância, o executivo critica o peso que tem sido dado à circularidade do plástico comum, segundo ele muito limitada.
“Os bioplásticos compostáveis auxiliam na redução da quantidade geral de plásticos produzidos, uma vez que o resulado de seu descarte se dá pela competa eliminação do produto, sem contaminação do solo ou produção de microplásticos. O bioplástico ainda integra a cadeia de coleta de alimentos, pois o seu destino é o mesmo de uma casca de banana”, afirma.
Fundada em 2009, a ERT começou a operar em 2019, ano em que teve um faturamento simbólico de R$ 100 mil. Depois, cresceu aos saltos, chegando a R$ 12 milhões em 2021 e o dobro ano passado, devendo dobrar de novo a sua receita este ano. A green tech que tem capacidade de fabricar 3,5 mil toneladas de bioplásticos por ano em suas instalações de Curitiba produz atualmente 2,5 mil toneladas.
A empresa surgiu a partir de pesquisas realizadas na Clemson University, dos Estados Unidos, para desenvolvimento de tecnologia pioneira capaz de modificar drasticamente a performance de biopolímeros e entregar aplicações antes desconhecidas para estes materiais. Resumidamente, usa a cana de açúcar como insumo para produzir o bioplástico compostável, que no fim de sua vida útil volta para a natureza sem deixar resíduos.
Inicialmente, a ERT contou com investimentos de fundos americanos e da família de Fabri. Mais recentemente, em 2022, recebeu um aporte de R$ 50 milhões da XP para aumento de sua produção.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista com Kim Gurtensten Fabri.
Integridade ESG – O que é, exatamente, o bioplástico?
Kim Fabri – É um material de origem renovável, feito com cana-de-açúcar ou outros açúcares que se tornam compostáveis que podem ser utilizados como adubo. O bioplástico é a evolução dos plásticos, pois possui um início e um fim de vida bem definidos, contribuindo para a redução das emissões de carbono e redução do volume de resíduos em aterros sanitários.
Integridade ESG – De que é composto?
Kim Fabri – Os compostos são bioplásticos adicionados de algum outro material também compostável, para dar funcionalidade e performance. Os nossos compostos geralmente são adicionados de cargas celulósicas ou minerais.
Integridade ESG – A ERT produz bioplástico no Brasil? Qual é a produção?
Kim Fabri – Hoje produzimos todos os nossos compostos de bioplásticos no Brasil, com uma capacidade instalada de até 3,5 mil toneladas por ano em Curitiba. Somos a maior fábrica de biocompostos do Brasil, produzindo localmente.
Integridade ESG – Quais as vantagens do bioplástico para o meio ambiente, comparado ao plástico derivado do petróleo?
Kim Fabri – O bioplástico é feito com uma fonte renovável, a cana-de-açúcar, ou outros materiais compostáveis. No fim de sua utilização, passa por um processo de biodegradação e compostagem, tornando-se adubo, ou seja, biomassa e gases naturais, não gerando microplásticos.
Integridade ESG – Qual é o potencial do mercado de bioplástico no Brasil e no mundo?
Kim Fabri – O mercado atual é de 500 mil toneladas por ano, sendo que o brioplástico ocupa em torno de 1% do mercado total do plástico. Os biolásticos têm uma taxa de retorno de investimento – Compound Annual Grouth Rate (CAGR) – de 25% ao ano. E há estudos que indicam que os bioplásticos devem tomar em torno de 40% do mercado total dos plásticos até 2030, principalmente nas aplicações descartáveis, embalagens alimentícias e cosméticas.
Integridade ESG – Isso é mesmo possível?
Kim Fabri – Realmente, são números muito agressivos, que devem englobar todas as outras alternativas de bioplásticos. Quando olhamos apenas para os compostáveis, os números indicam que devem estar em torno de 20% do mercado total em 2030, algo ainda muito significante.
Integridade ESG – Qual é a sua opinião sobre a movimentação da ONU para fechar, até o ano que vem, um tratado internacional contra a poluição plástica?
Kim Fabri – Vejo que está na hora de repensarmos como estamos sendo, de certa forma, ‘manipulados’ pela comunicação em torno da economia circular, fortemente apoiada pela indústria plástica em geral, o grande incentivador e idealizador da tal economia circular, vulgo reciclagem infinita, que não significa solução da poluição plástica, mas sim no parcelamento da poluição que, uma hora, vai superfaturar. O uso de plásticos reciclados é finito e ainda existe grande dificuldade de coletar e valorizar o plástico ‘não nobres’. Os bioplásticos compostáveis auxiliam na redução da quantidade geral de plásticos produzidos, uma vez que o resulado de seu descarte se dá pela competa eliminação do produto, sem contaminação do solo ou produção de microplásticos. O bioplástico ainda integra a cadeia de coleta de alimentos, pois o seu destino é o mesmo de uma casca de banana.
Integridade ESG – A ERT tem crescido aos saltos. Quais são as previsões para este ano?
Kim Fabri – Estamos com uma taxa de crescimento que dobra o faturamento a cada ano: de 2021 para 2022 e de 2022 para 2023. Dobrar o faturamento reflete bem a nossa realidade. Fotos de divulgação: o CEO da ERT, Kim Gurtensten Fabri, e embalagrens produzidas com bioplásticos