Fabricante brasileira de bioplásticos, ERT cresce aos saltos

por | jun 5, 2023

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Enquanto cerco internacional ao plástico aumenta, green tech nacional segue expandindo produção e faturamento em Curitiba

O bioplástico é uma solução mais amigável ao meio ambiente do que o plástico comum, de origem fóssil. Enquanto um pode ser decomposto em 90 dias na natureza, o outro chega a poluir o meio ambiente por 400 anos. Por isso, o material produzido a partir de compostos biodegradáveis vem ganhando força como alternativa, principalmente, às embalagens alimentícias e de cosméticos, impulsionando negócios como a Earth Renewable Technologies (ERT). Esta green tech dobrou o seu faturamento em 2022, frente a 2021, com previsão de repetir o feito este ano segundo seu presidente, Kim Gurtensten Fabri (foto).

Segundo ele, a produção mundial de plásticos supera hoje as 500 mil toneladas por ano, das quais apenas 1% do total é composta por bioplásticos. No entanto, a previsão é de este material oocupar 40% do mercado até 2030, ano-alvo das metas de redução de gases de efeito estufa capazes de conter o aquecimento global. Especificamente os bioplásticos compostáveis deverão chegar a 20% do total, segundo o CEO da ERT, que falou ao Integridade ESG neste Dia Mundial do Meio Ambiente (5/6), cujo tema é #CombataAPoluiçãoPlástica.

Ao comentar a iniciativa da ONU de criar um tratado internacional contra a poluição plástica, em que a reciclagem tem ganhado importância, o executivo critica o peso que tem sido dado à circularidade do plástico comum, segundo ele muito limitada.

“Os bioplásticos compostáveis auxiliam na redução da quantidade geral de plásticos produzidos, uma vez que o resulado de seu descarte se dá pela competa eliminação do produto, sem contaminação do solo ou produção de microplásticos. O bioplástico ainda integra a cadeia de coleta de alimentos, pois o seu destino é o mesmo de uma casca de banana”, afirma.

Fundada em 2009, a ERT começou a operar em 2019, ano em que teve um faturamento simbólico de R$ 100 mil. Depois, cresceu aos saltos, chegando a R$ 12 milhões em 2021 e o dobro ano passado, devendo dobrar de novo a sua receita este ano. A green tech que tem capacidade de fabricar 3,5 mil toneladas de bioplásticos por ano em suas instalações de Curitiba produz atualmente 2,5 mil toneladas.

A empresa surgiu a partir de pesquisas realizadas na Clemson University, dos Estados Unidos, para desenvolvimento de tecnologia pioneira capaz de modificar drasticamente a performance de biopolímeros e entregar aplicações antes desconhecidas para estes materiais. Resumidamente, usa a cana de açúcar como insumo para produzir o bioplástico compostável, que no fim de sua vida útil volta para a natureza sem deixar resíduos.

Inicialmente, a ERT contou com investimentos de fundos americanos e da família de Fabri. Mais recentemente, em 2022, recebeu um aporte de R$ 50 milhões da XP para aumento de sua produção.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista com Kim Gurtensten Fabri.

Integridade ESG – O que é, exatamente, o bioplástico?

Kim FabriÉ um material de origem renovável, feito com cana-de-açúcar ou outros açúcares que se tornam compostáveis que podem ser utilizados como adubo. O bioplástico é a evolução dos plásticos, pois possui um início e um fim de vida bem definidos, contribuindo para a redução das emissões de carbono e redução do volume de resíduos em aterros sanitários.

Integridade ESG – De que é composto?

Kim FabriOs compostos são bioplásticos adicionados de algum outro material também compostável, para dar funcionalidade e performance. Os nossos compostos geralmente são adicionados de cargas celulósicas ou minerais.

Integridade ESG – A ERT produz bioplástico no Brasil? Qual é a produção?

Kim FabriHoje produzimos todos os nossos compostos de bioplásticos no Brasil, com uma capacidade instalada de até 3,5 mil toneladas por ano em Curitiba. Somos a maior fábrica de biocompostos do Brasil, produzindo localmente.

Integridade ESG – Quais as vantagens do bioplástico para o meio ambiente, comparado ao plástico derivado do petróleo?

Kim FabriO bioplástico é feito com uma fonte renovável, a cana-de-açúcar, ou outros materiais compostáveis. No fim de sua utilização, passa por um processo de biodegradação e compostagem, tornando-se adubo, ou seja, biomassa e gases naturais, não gerando microplásticos.

Integridade ESG – Qual é o potencial do mercado de bioplástico no Brasil e no mundo?

Kim FabriO mercado atual é de 500 mil toneladas por ano, sendo que o brioplástico ocupa em torno de 1% do mercado total do plástico. Os biolásticos têm uma taxa de retorno de investimento – Compound Annual Grouth Rate (CAGR) – de 25% ao ano. E há estudos que indicam que os bioplásticos devem tomar em torno de 40% do mercado total dos plásticos até 2030, principalmente nas aplicações descartáveis, embalagens alimentícias e cosméticas.

Integridade ESG – Isso é mesmo possível?

Kim FabriRealmente, são números muito agressivos, que devem englobar todas as outras alternativas de bioplásticos. Quando olhamos apenas para os compostáveis, os números indicam que devem estar em torno de 20% do mercado total em 2030, algo ainda muito significante.

Integridade ESG – Qual é a sua opinião sobre a movimentação da ONU para fechar, até o ano que vem, um tratado internacional contra a poluição plástica?

Kim FabriVejo que está na hora de repensarmos como estamos sendo, de certa forma, ‘manipulados’ pela comunicação em torno da economia circular, fortemente apoiada pela indústria plástica em geral, o grande incentivador e idealizador da tal economia circular, vulgo reciclagem infinita, que não significa solução da poluição plástica, mas sim no parcelamento da poluição que, uma hora, vai superfaturar. O uso de plásticos reciclados é finito e ainda existe grande dificuldade de coletar e valorizar o plástico ‘não nobres’. Os bioplásticos compostáveis auxiliam na redução da quantidade geral de plásticos produzidos, uma vez que o resulado de seu descarte se dá pela competa eliminação do produto, sem contaminação do solo ou produção de microplásticos. O bioplástico ainda integra a cadeia de coleta de alimentos, pois o seu destino é o mesmo de uma casca de banana.

Integridade ESG – A ERT tem crescido aos saltos. Quais são as previsões para este ano?

Kim Fabri – Estamos com uma taxa de crescimento que dobra o faturamento a cada ano: de 2021 para 2022 e de 2022 para 2023. Dobrar o faturamento reflete bem a nossa realidade. Fotos de divulgação: o CEO da ERT, Kim Gurtensten Fabri, e embalagrens produzidas com bioplásticos

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