Conferência virtual promovida pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil discutiu a importância do biogás e mercado de carbono no país
O setor de biogás está se expandindo em ritmo acelerado no Brasil. Esse biocombustível é um importante aliado da transição energética sustentável em função da redução de emissões de metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2) e da flexibilidade tecnológica e processual para sua fabricação. Segundo a Associação Brasileira do Biogás (ABiogás), estima-se investimentos de R$ 60 bilhões em novas usinas até 2030, elevando a produção brasileira dos atuais cerca de 4 milhões de metros cúbicos diários – dos quais 10% são do derivado biometano – para 30 milhões de metros cúbicos por dia.
“A sacada do biometano é ser uma coisa transversal, de maneira internacional. Fazer biogás é um grande aumento de eficiência das cadeias produtivas. As principais vantagens são a origem renovável, a redução das emissões de gases do efeito estufa, reservas que não se esgotam, produção descentralizada em todas as regiões do país e a estrutura de preços independentes”, afirmou o presidente da Abiogás, Alessandro Gardemann, durante conferência virtual promovida pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil.
Segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), o Brasil emitiu, no ano de 2020, mais de 20 milhões de toneladas de metano, um gás que tem um poder de agravamento do efeito estufa 20 vezes pior do que o do CO2. De acordo com relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o metano foi responsável em 30% pelo aumento da temperatura do planeta.
A partir da projeção da ABiogás de produzir 30 milhões de m³/dia de Biometano até 2030, o país estaria captando e dando uma utilização nobre para 7,2 milhões de toneladas de metano por ano.
Para Nilson Righi, gerente de Portfólio de Produtos da New Holland, para obter o gás proveniente das emissões de metano é necessário investir em três pilares: na geração do biogás bruto, na limpeza desse gás e, depois, em máquinas e equipamentos para utilizar esse combustível. “Dentro dessa realidade, a gente começou a buscar no mercado para desenvolver equipamentos com preços mais acessíveis e favoráveis na produção do gás. Dentre as vantagens, estão a redução de até 80% das emissões em comparação com um motor diesel padrão, além da redução de 40% de custo com o combustível. O biometano pode ser usado para gerar energia elétrica dentro da fazenda, pode usar em motobombas de irrigação, em caminhões e em veículos leves”, informou durante sua participação.
Rodrigo Lima, diretor-geral da Agroicone, moderou o encontro e salientou a importância do bicombustível. “A importância de ter políticas públicas que orientem e incentivem a produção de biogás e políticas estruturantes que olhem para o futuro e falem que o Brasil quer caminhar nessa direção de desenvolvimento do país. Ter o ICMS do biogás mais caro do que o gás natural é um contrassenso do ponto de vista pelo menos ambiental. Dentro de uma questão tributária, ter uma direção é importante porque segurança energética é importante. No Brasil, felizmente, a gente não morre congelado no inverno sem aquecimento, mas todo mundo precisa de energia para tudo”, disse.
O etanol de milho na matriz de transportes descarbonizada
Diretor de Relações Institucionais da FS Bionergia, Eduardo Mota, também participou do encontro e falou sobre o papel do etanol de milho na matriz de transportes descarbonizada. “A contribuição do Etanol de Milho é recente no Brasil. Antes de 2014, a produção era evidentemente menor e mais resumida, mas já existiam algumas iniciativas superinteressantes, mas ainda pouco representativas na matriz energética e na oferta de biocombustível. Hoje a indústria já representa 11% da produção de etanol no Brasil. As projeções para o setor são que até 2030 esse volume superar três bilhões de litros para os anos para aproximadamente seis bilhões”, citou mota.
“Pelas projeções, essa indústria vai continuar representando 15% a 20% a ofertas de etanol do Brasil a longo prazo. Claro que o Brasil ainda vai continuar com o etanol da cana sendo um motor grande, mas o etanol de milho veio para complementar uma área onde a cana não estava tão presente, já que não tem sazonalidade, é uma indústria que tem disponibilidade de produção para o ano todo. Ele vem para a complementar a matriz tão verde do etanol de cana”, explicou o representante da FS Bionergia.
O futuro do mercado de carbono
O segundo debate trouxe como tema o futuro do mercado de carbono e teve a moderação do jornalista e diretor-executivo do Canal AgroMais, Marcello D’Angelo. CEO da My Carbon, Eduardo Bastos falou sobre os créditos de carbono e o potencial do Brasil em zerar as emissões. “O Brasil é considerado o país com maior potencial no mercado de carbono. Com o uso de tecnologias sustentáveis podemos compensar as emissões de gases no país e gerar excedentes para o mundo”, disse Bastos.
Durante o debate, foi apresentado o Projeto Compostagem da Sustainable Carbon no estado de Santa Catarina. A proposta da iniciativa é a substituição do sistema de gerenciamento de resíduos animais comuns por outro com menor emissão de GEEs. O projeto é composto por seis granjas ativas de suinoculturas que utilizam unidades de compostagem automatizadas que tratam os dejetos de forma controlada e economicamente sustentável. “Os principais desafios para desenvolvimento de projetos de carbono estão relacionados à escala. O Projeto Compostagem em Santa Catarina envolveu vários granjeiros, então a nossa sugestão é sempre unir iniciativas e produtores, de preferência da mesma cidade ou de cidade vizinhas”, Carmen Cedraz,
“O mercado de carbono tem que beneficiar a economia, mas acima de tudo precisa ser um grande serviço de gestão ambiental e instrumento para redução de emissões de gases”, Marta Giannichi, secretária da Amazônia e Serviços Ambientais do Ministério do Meio Ambiente. Já o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, destacou que o governo faz políticas na direção de inovar, empreender e criar uma economia verde: “Precisamos buscar tecnologias para produzir alimentos e fixar carbono durante esse processo. O grande desafio é mostrar que o Brasil é parte das soluções globais”.
Jornada CNA
O encontro faz parte de uma série de debates sobre temas relevantes para o país, com a participação de lideranças, autoridades, políticos e especialistas. A partir do que for debatido nos eventos, a CNA irá formular as propostas do setor produtivo para apresentar aos candidatos à Presidência da República e aos parlamentares.
A primeira Jornada discutiu as reformas tributária, administrativa e política. Já na segunda edição os temas foram educação, formação e emprego. A terceira foi sobre saúde e segurança e a quarta edição trouxe como tema a segurança alimentar.