Criar um ambiente inclusivo passa pelo envolvimento e a capacitação das lideranças
A consultora sênior e head de conteúdo da Mais Diversidade, Janaina Gama, fez um rápido raio x da evolução do combate ao racismo dentro das empresas para o Integridade ESG. A socióloga listou algumas das iniciativas mais comuns e o que falta fazer, em grande escala, para que o problema seja enfrentado de maneira mais efetiva num país grande e heterogêneo como o Brasil. Para ela, criar um ambiente inclusivo passa pelo envolvimento e a capacitação das lideranças, além da implementação de programas de compliance antidiscriminatório para acelerar inclusão.
Integridade ESG – A agenda antirracismo está evoluindo nas empresas?
Janaina Gama – Sim, uma vez que o tema tem sido incorporado não apenas por programas de diversidade e inclusão (D&I), mas também pela agenda de sustentabilidade e pauta ESG (sigla para ambiental, social e governança, em inglês). E isso pode ser comprovado pelos compromissos públicos que as empresas assumem ao aderir a programas como o “Equidade é Prioridade: Étnico Racial”, do Pacto Global da ONU, em parceria com o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), para aumentar o número de pessoas negras nos cargos de gestão. O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da B3, também estabeleceu critérios para avaliar as ações de inclusão racial para as empresas que desejam compor sua carteira. O Fórum Econômico Mundial criou uma coalizão de organizações para aumentar a inclusão de pessoas negras no mercado de trabalho e, este ano, o racismo foi debatido em Davos.
Integridade ESG – Quais as principais ações adotadas pelas empresas?
Janaina Gama – Vemos a implementação de ações afirmativas como contratações exclusivas para pessoas negras em programas de trainee ou vagas em cargos de lideranças. Entretanto, não é um movimento uniforme, é preciso lembrar que o Brasil é de tamanho continental, com inúmeras empresas de diversos portes e não estão todas evoluindo da mesma maneira.
Integridade ESG – O que é fundamental para acelerar esta agenda de inclusão e equidade?
Janaina Gama – O racismo institucional – quanto as normas e os processos corporativos fomentam o racismo estrutural? – é um problema complexo e, para acelerar, a agenda de inclusão e equidade, são necessárias diversas medidas. Além de assumir compromissos públicos, as empresas precisam implementar um plano, de forma estratégica, a fim de eliminar qualquer tipo de discriminação em todo o ciclo de vida de uma pessoa no ambiente corporativo. Ou seja, isso vai desde a divulgação de vagas, rever critérios exigidos para essas vagas, criação de metas de contratação para pessoas negras, passando por ações voltadas para o desenvolvimento na carreira, capacitação, acesso a benefícios, paridade salarial, por exemplo, além de garantir um ambiente seguro.
Integridade ESG – Como garantir esse ambiente?
Janaina Gama – Este ponto é relevante: garantir que as pessoas negras, dentro dos ambientes corporativos, não sofram discriminação, assédio ou violência psicológica. E, para isso, é importante envolver e capacitar lideranças e implementar um programa de compliance antidiscriminatório, para que as pessoas negras possam se sentir parte da organização, que são valorizadas e assim desenvolver todo seu potencial. Essa pauta é urgente. É inconcebível, em 2023, vermos ainda o racismo estrutural operando em todos os lugares. E, voltando à agenda de sustentabilidade, cujo principal lema é “não deixar ninguém para trás”: um mundo sustentável é um mundo sem racismo.