Evento foi marcado pela adesão do Ifood à Carta Compromisso pelo Trabalho Decente nas Plataformas Digitais
O lançamento da Carta Compromisso pelo Trabalho Decente nas Plataformas Digitais foi um dos destaques da Conferência Ethos 360°, realizada no último dia 20 de junho, no Rio de Janeiro (RJ). O documento visa engajar empresas em torno de princípios e diretrizes garantam o trabalho digno — tema principal do ODS 8, da Agenda 2030 da ONU.
A carta baseia-se em cinco pilares centrais: diálogo social, condições de trabalho e rendimentos justos, responsabilidades e transparência, comunicação objetiva e inclusão social e diversidade. A primeira empresa a aderir à iniciativa é o Ifood — representada pelo head de Impacto Social da companhia, Johnny Borges. O diretor-presidente do Instituto Ethos, Caio Magri, ressaltou as consultas realizadas junto a entidades antes do lançamento da carta.
“Nós dialogamos com trabalhadores, academia, especialistas e empresas e construímos esse conjunto de princípios, critérios e questões centrais e emergenciais a serem tratadas para que a gente caminhe numa agenda de trabalho decente nas plataformas digitais. Como questões emergenciais, elencamos definição de renda mínima, duração da jornada, descanso semanal, férias, seguridade social, segurança e saúde. Equidade, inclusão, liberdade sindical também são importantes, além do reconhecimento de que é necessária uma revisão do sistema sindical hoje para incluir esses trabalhadores autônomos”, disse Magri.
Assuntos pertinentes à agenda ESG foram debatidos durante os mais de 10 painéis realizados, como diversidade, equidade e inclusão; circularidade da lata de alumínio; fortalecimento da carreira do profissional ESG; indicadores e mensuração; governança das estatais na transição energética e sustentabilidade corporativa.
Profissional ESG deve ser flexível e atuar de forma transversal, dizem especialistas
Os participantes do debate “Profissional ASG (ESG): Como fortalecer minha carreira?” concluíram que o especialista deve buscar novas formas de se fazer as coisas no mundo corporativo e ter características de flexibilidade e transversalidade.
A fundadora e diretora da consultoria Em Roda, Mariana Kohler, destacou que a atuação do profissional ESG apresenta uma transversalidade dentro da mesma corporação.
“As demandas e oportunidades de formação são inúmeras e variadas, mas existem muitas lacunas de formação e de conhecimento, tanto gerais quanto específicas. O profissional ESG não deve ficar na caixinha da sustentabilidade: ele também na área estrutural, financeira, de riscos corporativos, no compliance e no jurídico. Deve fazer networking com organizações da sociedade civil, buscando apoios. Tem que conduzir o processo de mudança, olhando para o todo com uma visão sistêmica e apaixonada. Apaixonada porque deve acreditar que as empresas podem fazer parte da solução. Enfim, o profissional ESG é um articulador de soluções”, observa.
Com 23 anos de atuação como docente, Fulvio Cristofoli, coordenador do curso de Pós-graduação em Gestão Estratégica ESG Mackenzie, notou mudanças ao longo do tempo, principalmente no que se refere a um aumento exponencial do interesse pela agenda ESG. Ele enfatiza que o “profissional verde” precisa ter atitude a fim de colocar em prática a teoria apreendida.
“O profissional ESG deve ter conhecimento, habilidade, atitude. A atitude é essencial para colocar em prática o conhecimento e a habilidade. Deve ser um profissional flexível, organizado e preparado para lidar com mudanças, além de exercer certa liderança, com inteligência emocional, sabendo lidar com seres humanos e seus conflitos”, comentou.
Sob uma visão holística da empresa, o especialista não deve negligenciar as questões periféricas, lembrou o professor.
“O profissional ESG precisa estar atento aos sinais periféricos das organizações. Muitas vezes, uma peça periférica emite um sinal, que, se ignorado, acaba nos engolindo. Isso aconteceu com muitas organizações”, alertou, citando a importância da fase do mapeamento na gestão da governança corporativa.
Em sua participação no painel, o gerente de Sustentabilidade da Firjan, Jorge Peron Mendes, enumerou as marcantes e recentes mudanças registradas no mundo corporativo, inclusive na indústria 4.0, nos eixos tecnológico e comportamental, como inteligência artificial e degenerativa, tratamento de dados, capacitação de competências digitais e saúde mental no trabalho.
“A transparência sobre os dados das empresas, com informações verificada, é fundamental para evitar todos os washings que conhecemos”, frisou.
“Transição energética é uma diretriz para a Petrobras”, disse diretor executivo de Governança e Conformidade da estatal
Os novos modelos de trabalho também integram a miríade de mudanças no ambiente corporativo, atesta o gerente da Firjan.
“Já caiu por terra o padrão da jornada de trabalho, de 9h às 18h. Mas isso não é uma simples decisão para os gestores. Hoje, surge como uma real necessidade do mercado de trabalho”, observou.
Durante os debates em torno do papel da governança das empresas estatais na agenda de mudanças climáticas e transição energética, o diretor executivo de Governança e Conformidade da Petrobras, Mário Spinelli, confirmou a adoção da agenda da transição energética na companhia, mas sem desprezar as fontes de matriz fóssil.
“Prestar contas para uma estatal é primordial. Além disso, a transição energética é uma diretriz para a Petrobras. Nós não iremos esquecer do petróleo, obviamente, mas essa nova gestão da empresa tem essa visão, e a governança corporativa é responsável por liderar essa cadeia”, frisou.
Para Spinelli, que é professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EAESP/FGV), eventos como a Conferência Ethos são de relevância para que a sociedade exerça voz ativa nos debates ambientais.
“A sociedade deve exigir das estatais ações de interesse público. Afinal, se o único interesse for o lucro, ela perde a razão de ser uma estatal. Esse é um debate que deve ser político. E deve ser mais discutido em eventos como esse”, conclui.
Durante o painel “Indicadores Ethos ASG”, a diretora de Sustentabilidade na Enel Brasil, Marcia Massoti, explicou aos participantes da Conferência Ethos de que forma a agenda sustentável da companhia impacta os diferentes stakeholders com os quais se relaciona.
“Nossa agenda de sustentabilidade deve gerar valor para todos os nossos stakeholders, e não só os shareholders. Para os acionistas, devemos maximizar os indicadores ESG; junto aos colaboradores, é preciso gerar um propósito e um senso de pertencimento, com projetos de saúde mental, por exemplo, envolvendo os profissionais ESG em toda a empresa. Com os fornecedores, desenvolvo trabalhos de letramento e circularidade, com estímulo à inovação por meio de um fator k. E, com os clientes, desenvolvo ações voltadas para a eficiência energética”, resumiu.
O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, realizador da Conferência Ethos 360°, desenvolve indicadores para auxiliar as empresas a compreenderem a sua situação e os caminhos para se tornarem mais diversas, inclusivas e éticas. Com 460 associados, o Ethos realiza diversas atividades de advocacy colaborativo e coordena o Conferência Brasileiro de Mudança do Clima ao lado das principais organizações do setor.