Congresso do CEBDS: Brasil precisa da iniciativa privada para se tornar líder ambiental, diz secretária de Mudança do Clima

por | out 18, 2023

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Integridade ESG acompanhou a 11ª edição do encontro organizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, em São Paulo

O Brasil só conseguirá liderar a transição energética global com a ajuda da iniciativa privada. A afirmação foi feita pela secretária nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni, durante a 11ª edição do Congresso Internacional para o Desenvolvimento Sustentável, organizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), no dia 18 de outubro.

“Não temos os mesmos recursos dos países desenvolvidos. Por isso, para que esses planos deem certo, vamos precisar ainda mais da parceria do setor privado para concretizá-los. Por esse motivo, é importante estarmos aqui, no encontro do CEBDS, pois o sonho do Brasil como potência ambiental só vai se concretizar com parcerias com o setor privado”, afirmou, destacando o que chamou de resiliência e liderança do Conselho junto ao empresariado em torno da questão ambiental.

Ao representar a ministra Marina Silva, que não pôde comparecer ao evento realizado no Masp, na capital paulista, Ana, que foi diretora da Fundação Ford no Brasil e presidente do Conselho do GreenPeace Internacional, apresentou dados que representam que o atual governo federal está tentando mostrar que a sustentabilidade é prática e não só teoria”.

“Você não se autoproclama líder. Os outros é que te chamam de líder. Existe toda uma expectativa internacional em torno do papel do Brasil, que poderia se destacar nas negociações globais sobre o clima. Mas o nosso grande esforço deve ser em torno da nossa união interna. Temos avanços, mas temos desigualdades”

André Corrêa do Lago, embaixador e secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente

“Em nove meses tivemos queda no desmatamento de 40%, o que evitou o lançamento de 200 milhões de toneladas de carbono na atmosfera. Pelo Fundo Clima, gerido pelo BNDES, temos a ambição de contar com 10 bilhões e 400 milhões para financiar projetos sustentáveis. Em um período curto, trabalhamos no Senado para concluir o texto do mercado de carbono”, citou.

Para elevar o país ao papel de potência ambiental, o governo elaborou oito planos de mitigação e 14 de adaptação para setores diversos, como transportes e energia. O momento para focar na transição energética é muito especial para o Brasil, lembrou a secretária, por conta do próximo biênio, em que o país, além de ser presidente do G20 e sediar a COP 30, acumulará a presidência do Mercosul e a presidência do Brics.

Ministério da Fazenda puxa outras Pastas para agenda sustentável, diz embaixador

O embaixador e secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente, André Corrêa do Lago, ressaltou a disposição do Ministério da Fazenda, liderado por Fernando Haddad, para avançar na causa ambiental.

“A agenda parece quase desenhada para que o Brasil se insira de maneira favorável. O próprio Ministério da Fazenda faz um plano de transição ecológica, uma coisa que pouquíssimos países fizeram, e os outros Ministérios o seguem”, destacou.

No entanto, o maior desafio brasileiro está no ambiente interno, alertou.

“Você não se autoproclama líder. Os outros que te chamam de líder. Como lembrou John Kerry (enviado presidencial especial para o Clima dos EUA) em sua fala, existe toda uma expectativa internacional em torno do Brasil. As negociações globais sobre o clima são muito frustrantes, sendo que hoje há uma noção de urgência e dos pontos de não retorno. O grande esforço deve ser em torno da nossa união interna. Nas negociações globais, o Brasil poderia ser líder. Temos tecnologia avançada, mas temos desigualdades. Temos que fortalecer nossa agenda interna”, concluiu André Corrêa, que foi negociador-chefe do Brasil para mudança do clima (2011-2013) e para a Rio+20 (2011-2012).

Para Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS, a questão da segurança alimentar deve ser abordada conjuntamente com a questão ambiental. O empresário enumerou algumas das ações ESG da multinacional de origem brasileira do agronegócio, que lidera centenas de milhares de produtores rurais em diversos países.

“Estamos levantando todas as nossas emissões em 500 locais onde atuamos no mundo, em relação a todos os tipos de proteína. Esse trabalho deve ficar pronto no início de 2024. Além disso, usamos nossos resíduos industriais como matéria-prima para agregar valor, criando indústria de biocombustíveis, gelatina e colágeno, e gerando energia por meio da biomassa, inclusive biocombustível para o setor da aviação. Temos uma estratégia diferente para cada fatia da pirâmide, com nossos diferentes produtores. Acredito que ninguém vai resolver esse problema sozinho”, disse o CEO de uma das maiores produtoras de proteína animal do mundo, citando parcerias com o governo do Pará e com associações da sociedade civil.

Plínio Ribeiro, cofundador e CEO da Biofílica Ambipar Environment, mostrou preocupação com o exemplo que o Brasil deixará para o mundo ao sediar a COP 30, em Belém, em 2025.

“Falta bastante tempo para a COP, mas pouco tempo para o nosso país pelo menos reverter, de forma drástica, o desmatamento. A nossa influência no mundo vai depender dos números oficiais que teremos, da forma como estivermos daqui a dois anos. Então, não é tanto tempo assim. Essa será a mensagem mais importante que vamos colocar para o mundo. Se não conseguirmos reduzir nossas emissões, não seremos levados a sério”, resumiu ele, que participou das últimas 11 Conferências do Clima da ONU.

Presidente do CEBDS ressalta papel da entidade na elaboração do Plano de Transição Ecológica de Haddad

A presidente do Conselho Brasileiro pelo Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marina Grossi, defendeu o papel da entidade que reúne 112 empresas grandes e mantém voz ativa na agenda verde ao longo dos seus 26 anos de existência.

“Estamos em um momento único para o país por uma conjunção de fatores. A sustentabilidade é o grande mote. Atuamos sempre como vanguarda da sustentabilidade, seja marcando posicionamentos e chamando outras entidades do setor privado, seja promovendo networking ou criando um para que as empresas mais sustentáveis sejam bem sucedidas”, comentou com o Integridade ESG.

Grossi destacou o papel ativo do Conselho na elaboração do chamado pacote verde, elaborado pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad.

“Realizamos subsídios para políticas públicas. O último deles foi feito no âmbito do Plano de Transformação Ecológica do ministro Haddad, para o qual demos uma contribuição concreta para os seis pilares. A lei para regulamentar o mercado de carbono, recentemente aprovada no Senado, constitui uma nossa bandeira desde 2016. Ainda há muito a ser feito, mas conseguimos influenciar essa agenda, e esperamos que seja ampliada e se torne mais robusta, dentro do chamado pacote verde do ministro Haddad”, afirmou.

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