Colosso do mercado cervejeiro pretende tirar público-alvo do projeto da linha da pobreza com a ajuda de parceiros e fornecedores através de conhecimento, créditos e intermediação de mão de obra
A maior cervejaria da América Latina incorporou o termo “impacto positivo” ao seu dia a dia. Com 26 marcas só de cerveja, fora as de bebidas mistas, isotônicos, energéticos, refrigerantes, sucos, águas e chás, o colosso chamado Ambev criou, lá pelos idos de 2017, a área de Impacto Positivo. Ou como escreveu Paulo Polman, ex-CEO da Unilever, em seu livro Net Positive (Impacto Positivo), “como empresas corajosas prosperam dando mais do que tiram”. A obra defende a ideia de que é lucrativo fazer negócios com o objetivo de tornar o mundo um lugar melhor. E é nessa direção que caminha a fabricante da bebida mais consumida pelos brasileiros.
A Ambev, pode não parecer, mas é uma empresa jovem. Tem 25 anos, embora carregue consigo marcas centenárias que vieram da fusão da Antarctica e da Brahma.
“Quando completamos 20 anos, fizemos uma reflexão profunda na companhia sobre o que queríamos para os próximos 20 anos. O sentimento foi o de que poderíamos fazer mais pelo Brasil. Continuar nosso processo de internacionalização e também de transformação conectada com a comunidade e trazendo o ecossistema junto”, afirmou Jean Jereissati, presidente da Ambev, durante evento de lançamento do hub do Bora, que reuniu parceiros, empreendedores e interessados no projeto da marca em São Paulo, na Cidade Matarazzo, este mês.
Percebendo-se como potência na capacidade de transformação de seu entorno – da agricultura ao garçom do bar -, a fabricante viu que dava para fazer mais.
“Fomos estudar inclusão produtiva e, a partir daí, conectar pessoas no ecossistema, capacitar, oferecer alguma ajuda financeira e realizar o sonho de trazer cinco milhões de brasileiros para serem incluídos produtivamente. Esse projeto é muito importante para a gente”, explica o CEO.
Marca quer o impacto positivo nas comunidades
“Como a gente consegue, junto com o negócio, ter impacto positivo nas nossas comunidades?”, pergunta Carlos Eduardo Pignatari Filho, diretor de Impacto Positivo da Ambev.
Como o negócio está diretamente ligado ao meio ambiente (agricultura e água são ingredientes-chave para a Ambev), o olhar da sustentabilidade já acontece de forma estruturada desde 2017 e há soluções traçadas para 2025, 2030 e 2040. Mas essa é uma parte do ESG.
Promover o chamado “impacto positivo” nas comunidades é uma das missões da fabricante de bebidas que tem falado, cada dia mais, em inclusão produtiva.
“A Ambev acredita muito em crescimento compartilhado. Eu só vou conseguir crescer se o Brasil crescer. A gente tem um papel importante no Brasil e tem o papel de incluir quem está precisando dentro da roda. Como a gente coloca a galera dentro da roda para fazer a roda girar mais rápido? Como a gente ajuda a impulsionar a economia e ajuda as pessoas a estarem dentro dela?”, comentou na conversa com o Integridade ESG durante o lançamento do Bora.
Bora Zé oferece bolsas de estudos para entregadores
A resposta está no Bora, iniciativa criada em 2022 que visa gerar capacitação e oportunidades a partir de três pilares de atuação: conhecimento (exemplo de cursos), grana (por meio de bolsas de estudos, microcréditos e capital semente) e intermediação de mão-de-obra (o hub seria uma espécie de LinkedIn para a baixa renda). Até 2032, a meta é construir um futuro com inclusão produtiva para 5 milhões de pessoas que vivem entre a pobreza e a extrema pobreza.
“A gente não fala só de recrutar gente para a Ambev. Fala de empreendedorismo e extrapola o ecossistema. O Bora Zé, por exemplo, conta com entregadores ou família de entregadores do Zé Delivery (plataforma de entregas de bebidas da Ambev), e conta com o apoio dos fornecedores”, conta o diretor de Impacto Positivo.
O Bora Zé impacta pessoas entregadoras de todo o país, além de oferecer bolsas de estudo para supletivo de ensino fundamental e médio. O programa, que oferece trilhas de conhecimento, conexão e oportunidades de emprego dentro do ecossistema, é uma parceria com a Generation Brazil – ONG global de educação para o trabalho – e as empresas Analytica Ensino e Eduk, que atuam no segmento de educação formal e cursos online.
Daí a ideia do lançamento do hub do Bora, de inclusão produtiva. Lembrando que o projeto nasceu em 2022 e, nesses dois últimos anos, já incluiu 500 mil pessoas produtivamente. São pessoas que saíram da linha da extrema pobreza e foram inseridas na linha da dignidade. Isso se deu a partir de mais de 40 projetos como o Zé Delivery e gerou mais de R$ 620 milhões em renda indireta para os brasileiros.
Agora, em uma reafirmação e expansão do projeto, o hub traz mais gente de todas as pontas para participar.
“Não é só a gente contratar. A ideia do hub é trazer mais gente para esse projeto. Até porque a gente não consegue fazer sozinho. Precisamos de outras pessoas que estão no ecossistema. A ideia do hub é conectar mais gente como parceiros e fornecedores”, conta Pignatari Filho. E assim outros nomes se unem à iniciativa, a exemplo da Fundação Volkswagen e da Accenture.