Para José Luis Gordon, diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comercio Exterior do banco, biocombustível pode cumprir o importante papel de ser um eixo da transição energética do setor marítimo
O biocombustível, como o etanol, foi uma das alternativas para o transporte marítimo bastante discutida no seminário internacional Transição Energética no Mar: Desafios e Oportunidades para o Brasil, na Fundação Getulio Vargas (FGV), realizado, esta semana, no Rio, em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social(BNDES), e a Marinha do Brasil.
Na abertura do segundo dia do seminário, Carlos Ivan Simonsen Leal, presidente da FGV, disse que a transição energética é fundamental, não só para se ter mais energia ou pelo simples dever de se fazer as coisas de forma mais limpa, menos poluente, o que considera muito importante, mas “porque são os nossos primeiros passos mais fortes em uma direção de maior interação a nível econômico com o resto do mundo”.
Na opinião de José Luis Gordon, diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comercio Exterior do BNDES, o Brasil pode se destacar e “puxar” a agenda global de transição energética e da sustentabilidade.
Após lembrar que o BNDES vai investir R$ 6,6 bilhões no setor marítimo do país em 2024, conforme anunciou o presidente da instituição Aloizio Mercadante, na segunda-feira (29), primeiro dia do seminário, Gordon comentou que, especificamente na agenda de transição energética para o mar, o que mais se ouviu no seminário foi sobre a competência e a capacidade do etanol e dos biocombustíveis para poder ocupar esse espaço.
Ele também contou que tem recebido no BNDES uma série de empresas que estão investindo nessa agenda de etanol para o combustível marítimo, acrescentando que essa pode ser uma matriz para ocupar esse espaço.
“Existe uma disputa internacional e eu acho que o Brasil tem que estar essa disputa porque o etanol e os biocombustíveis podem e já estão sendo testados para ocupar o espaço de ser um grande combustível. Obviamente não vão ser os únicos, vai haver uma matriz variada, mas o etanol pode cumprir esse grande papel de ser um dos grandes eixos da transição energética do setor marítimo”, enfatizou.
Unicamp confia em biocombustível
Joaquim Seabra, professor da Unicamp, abordou o tema “Metanol, Etanol (Cana e Milho), e Biodiesel de Soja para o Transporte Marítimo. Ele destacou a grande flexibilidade ou diversidade de opções que o setor possui, não só na tecnologia de uso, mas com a opção de biocombustíveis, que podem promover uma redução entre 60% e 80% das emissões de gás de efeito estufa comparado com os combustíveis fósseis.
“Do ponto de vista de redução de emissões de gás de efeito estufa, a gente tem uma confiança muito boa com relação ao uso de biocombustíveis como um mitigador de emissão”, frisou o professor.
No entanto, alertou que não se pode, de forma nenhuma, descuidar das questões associadas ao desmatamento. O professor lembra que o país já tem um conjunto de políticas e regulações bem estabelecidas para a questão do uso da terra e que devemos ter cuidado de manter isso funcionando bem.
De acordo com Seabra, “na medida em que são usadas áreas mais degradadas para o cultivo de matérias-primas na produção dos biocombustíveis, nós temos um potencial tremendo de atuar como um sequestrador de carbono. Isso pode ser induzido pelo transporte marítimo que vai consumir esse biocombustível”, esclareceu.
Para o docente, trata-se de uma maneira de promover, já inicialmente, o sequestro de carbono no solo.
“E essa é a primeira grande ferramenta que temos de produzir biocombustível com uma pegada de carbono, inclusive, negativa. Então, é um aspecto estratégico e que pode ser implementado em curtíssimo prazo, fazendo essa transição adequada, com boa regulação, usando tecnologia que temos em larguíssima escala e já sabemos aproveitar”, analisa o professor da Unicamp.
Raul Portella, vice-presidente de Tecnologias de Operações e Excelência da Equinor, maior produtora de metanol da Europa, disse que o biocombustível é crítico para a empresa por alguns pontos.
“Primeiro, porque o metanol é algo que pode ser implementado para longo curso e a nossa área de midstream pós-refinaria tem trabalhado nisso de forma concreta e já tem quatro tankers do fio para o metanol”.
Depois, continuou, os motores a metanol já estão disponíveis. e a Equinor tem interesse particular para que seja bem-sucedido.
Biodiesel da Equinor para motor
Ao debater a “Trajetória energética e tecnológica para a descarbonização: do biocombustível ao hidrogênio verde”, Camilo Adas, superintendente de Estratégia e Transição Energética da Be8, disse que a empresa tem uma solução simples e prática de biodiesel que foi desenvolvida e que pode ser usada 100% no motor ciclo diesel.
Segundo Camilo Adas, é claro que precisa ser avaliada por cada um.
“Cada um precisa pegar o seu próprio navio e avaliar, mas com esse tipo de solução, que é um éster metil bidestilado, dá para conseguir um produto imediato, 10%, 15% acima do preço do biodiesel, para combater a transição energética nos próximos 5, 10, 15, 20 anos, enquanto as novas tecnologias não chegam”, ressaltou Camilo Adas.
Prêmio da Sobena para transição no mar
Durante o seminário, o presidente da Sobena, Ricardo Portela, lançou o prêmio Inovação – Transição Energética no Mar para trabalhos de impacto da área. A Sobena, que tem como objetivo unir mais a academia e a indústria, vai premiar projetos estudantis e profissionais.
Os temas são livres, desde que relacionados à área de transição da matriz energética ligada à economia do mar, como o transporte marítimo, a indústria naval, a hidrodinâmica de navios e os combustíveis alternativos. As inscrições já podem ser realizadas no site da Sobena.
Os melhores trabalhos serão indicados para publicação na revista técnica da Sobena, a MSOT. O resultado do prêmio será divulgado durante o 30º Congresso Internacional de Transporte e Aquaviário, Construção Naval e Offshore, a ser realizado de 22 a 24 de outubro de 2024, no Rio de Janeiro.