As conexões entre ESG e IA: “Inteligência Artificial assusta, mas encanta”, diz diretora da Microsoft

por | mar 26, 2024

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Gestores e especialistas destacaram desafios sobre o tema durante o evento “Como a IA está revolucionando o ESG”, realizado em São Paulo

ESG e IA (ou AI, em inglês) são, provavelmente, as siglas mais usadas pelas companhias na atualidade. Nem todos sabem, mas elas estão intrinsecamente conectadas. Seriamente conectadas, conforme observou a revista Fortune, em reportagem publicada em janeiro deste ano com o título “a luta contra o greenwashing começa com a Inteligência Artificial”.

De forma bastante resumida, a Fortune explicou que as classificações ESG são ambíguas e, muitas vezes, baseadas em dados isolados e sobrepostos, autorrelatos incompletos e exagerados, falta de padrões de medição e “lavagem verde. O exemplo mais gritante, alerta o título, aconteceu no início deste ano (2024), quando uma fabricante de cigarros atingiu uma pontuação ESG significativamente superior à montadora de veículos elétricos Tesla.

Esse tema conduziu o evento Como a inteligência artificial está revolucionando o ESG, realizado recentemente em São Paulo pela Jabuticaba Conteúdo. Valter Wolf, presidente da Associação Brasileira de Inteligência Artificial (Abria), lembrou, durante sua apresentação, que dados da ONU apontam que, até 2100, o número de queimadas espontâneas aumentará 100% — criminosas, no caso, não há como estimar.

“Em 2023, foram nove mil quilômetros de queimadas espontâneas na Amazônia, região que sofre 60% das queimadas do país. A IA pode ajudar a prever a queimada”, afirmou Wolf.

Tanto que ele comentou que há um projeto-piloto em Humaitá (AM), no qual foi possível prever as queimadas com 10 dias de antecedência.

Na palestra Microsoft – Caso prático de IA & ESG, Regina Magalhães, diretora de gestão de negócios da Microsoft, comentou que a “IA assusta, mas encanta.” Ela faz parte do que a PhD chama de quarta revolução industrial a partir da convergência de tecnologias. Ela comentou que a IA já está disponível para o uso da população, a exemplo do ChatGPT e do Microsoft Copilot. Há trabalhos de dias que podem ser feitos em minutos, mas alertou sobre a importância de cada indivíduo analisar como a tecnologia pode tornar seu dia mais produtivo e incrementar sua qualidade.

Incremento do poder computacional aumenta a pegada de carbono

O que está acontecendo no mundo da tecnologia em relação ao ESG? Ela responde que o consumo de energia é um dos grandes desafios das empresas de tecnologia. Adicione-se aí negócios que não existiam no passado, como tecnologia financeira, streaming e mineração de criptomoedas. Com o aumento da capacidade computacional, um data center precisa operar em ambiente refrigerado 24 horas por dia. Uso de mais energia significa também mais emissão de carbono. A Microsoft, com mais de 200 data centers espalhados pelo mundo, está comprometida em apresentar pegada de carbono negativa em seis anos. A gigante norte-americana informa que, até 2030, será negativa em carbono e que, até 2050, removerá do ambiente todo o carbono que a empresa emitiu diretamente ou por consumo elétrico desde sua fundação em 1975.

Risco: vieses de exclusão de gênero e raça

Em janeiro, a Agência Internacional de Energia (AIE) fez um alerta: os data centers podem consumir o dobro de eletricidade até 2026. Segundo a entidade, o avanço da Inteligência Artificial, bem como a mineração de criptomoedas são os responsáveis pelo aumento da demanda de energia e, ao expandirem pelo mundo, podem representar desafios para o sistema elétrico.

Diante de riscos como esses, a IA também pode, por outro lado, ajudar a analisar e otimizar o consumo de energia dos data centers, identificando padrões de uso e propondo ajustes como o monitoramento de temperatura, a regulação do ar-condicionado e a antecipação de falhas de manutenção.

“Há um esforço muito grande do setor de tecnologia para fazer com que isso seja utilizado para o bem da sociedade e de forma responsável com eficiência energética”, conclui Regina.

Regina observou ainda que a IA pode trazer outros impactos negativos na vida das pessoas.

“Grupos de estudos mostram que a IA pode produzir vieses de exclusão de gênero e raça. É preciso haver mecanismos para que a IA seja justa e não reproduza esses vieses”, alerta, chamando atenção para a importância de se garantir confiabilidade e segurança no uso da IA, de forma que as informações não sejam violadas e que a privacidade seja mantida.

Outro exemplo de como a IA pode ajudar em temas como sustentabilidade vem da GreenAnt, do Rio de Janeiro, mencionada por Valter Wolf durante sua apresentação. A startup reúne dados de consumo essenciais para corrigir desperdícios, comparar gastos e descobrir o potencial de economia energética. Hoje, ela tem clientes como o Museu do Amanhã, a Celer Energia, o Bangu Shopping e a Ambev — essa última informa ter identificado pontos de maior consumo de energia e criar KPIs de sustentabilidade.

Conexões entre IA e ESG reduzem desperdício

Ao analisar dados ESG, o homem (caso de um analista de dados ou um gestor de ativos financeiros) busca informações fornecidas pelas próprias empresas, pesquisas de mercado e realiza comparações e classificações. E aí reside a primeira questão: as pontuações ESG baseiam-se parcialmente em informações publicamente disponíveis e dependem do compromisso das empresas com a transparência. A segunda questão é que os avaliadores ESG são humanos, o que abre brecha para erros, preferências e até mesmo preconceitos. Com a Inteligência Artificial, isso já é evitado.

Há uma riqueza de possibilidades ao aliar IA e ESG. Exemplo: algoritmos podem ser usados para analisar grandes conjuntos de dados ambientais, sociais e de governança para identificar tendências, riscos e oportunidades. Eis que aí eles têm potencial para ajudar nas tomadas de decisões de negócios, a exemplo de decisões comerciais que podem impactar no meio-ambiente, no entorno social e também na governança corporativa.

A IA também pode ser usada para otimizar processos e operações, reduzir desperdícios e melhorar a eficiência energética, contribuindo para os objetivos ambientais das empresas. E ainda identificar e mitigar os riscos relacionados à sustentabilidade. Algoritmos são capazes, por exemplo, de analisar dados em tempo real para detectar sinais de alerta precoce de problemas ambientais, sociais ou de governança.

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