Falta plano de ação na Aliança Amazônica, criticam especialistas

por | ago 11, 2023

5 minutos de leitura
Compartilhe:

Ativistas ouvidos pelo Integridade ESG chamam atenção para a falta de um programa tático e criticam postura favorável do governo brasileiro à extração de petróleo na região amazônica

“É preciso celebrar que os oito países decidiram olhar para o mesmo horizonte, mas não podemos tirar os nossos olhos e a nossa atenção do fato de que a declaração final não trouxe nenhuma meta, como era esperado”. Assim, Kamila Camilo, ativista ambiental, líder do Davos Lab Brazil, do Fórum Econômico Mundial, e fundadora da Creators Academy, avaliou, em conversa com o Integridade ESG, a criação da Aliança Amazônica de Combate ao Desmatamento, lançada na Cúpula Amazônica, em Belém, no último dia 9 de agosto.

A frustração de Kamila e de outros ambientalistas deve-se ao fato de o Brasil não ter apresentado metas ambiciosas de combate ao desmatamento. Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, por sua vez, lamentou com a imprensa que “não é possível que, num cenário como esse, oito países amazônicos não consigam colocar numa declaração, em letras garrafais, que o desmatamento precisa ser zero e que explorar petróleo no meio da floresta não é uma boa ideia”. 

A expectativa da ativista ambiental Kamila Camilo era de que o país liderasse a cúpula de maneira consistente, trazendo uma estratégia, ou pelo menos criasse um grupo de trabalho estratégico para direcionar esse combate.

“Faltou a apresentação de um plano tático”, resumiu, em entrevista ao Integridade ESG.

A Aliança Amazônica, estabelecida pelos oito países (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela) que integram o Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), foi considerada um avanço por Kamila Camilo. É uma evolução no sentido de que todos concordam que o desmatamento é necessário e uma responsabilidade compartilhada.

Na opinião dela, o problema sério é conhecer o desafio e não apresentar soluções.

“Isso faz com que caiamos na mesmice das discussões internacionais, em que a palavra é muito bonita, mas com pouco plano de ação. A pergunta que fica, agora que concordamos que temos uma agenda em comum, é qual é o plano de ação?”, indagou.

Ações de combate ao desmatamento devem incluir acordos com países da Pan Amazônia

A líder do Davos Lab Brazil acredita que o que vai combater de maneira efetiva o desmatamento é uma política de comando e controle, coordenada entre os países da Pan Amazônia, com a ajuda de outros órgãos internacionais. Ela destacou para isso a necessidade dos seguintes pontos:

É preciso que os países que se comprometeram, inclusive com o green found, no acordo de Paris, colaborem com inteligência, equipamentos de monitoramento e coloquem mais satélites, avaliou, e que “fortaleçam órgãos de monitoramento, como o INPE, no Brasil, para qualificar nossos dados”.

Além disso, na visão da ambientalista, é necessário coordenar as forças militares de todos os países para estarem presentes na fiscalização da Amazônia, é obrigatório ter uma atenção, um olhar clínico e presença ostensiva na fiscalização.

“É fundamental fortalecer a população que de fato é guardiã das florestas e de cidades amazônicas. São 80% das pessoas, das mais de 40 milhões que vivem em cidades na Pan Amazônia. Também vejo como indispensável o fornecimento de estrutura para as cidades para que as pessoas que moram nelas trabalhem em prol de conservar as áreas que não são urbanas”, pontuou.

Kamila destacou ainda a importância da existência de um auxílio para famílias, especialmente as extrativistas, para que não vendam suas terras para pecuaristas, e de uma política pública de transferência de renda que possibilite que as pessoas cuidem da “floresta em pé”. O país também precisa criar mais unidades de conservação, demarcar mais terras indígenas, devolver terras, tirar terras da mão de grileiros e revisitar o cadastro de área rural, de forma coordenada e em um plano de ação de monitoramento e fiscalização contínuo.

“Não podemos simplesmente celebrar que números foram bons nesse mês e diminuir a força da presença dos órgãos fiscalizadores, por exemplo”, concluiu Kamila Camilo.

Indigenista critica projeto do governo de explorar petróleo na região amazônica

Marco Antônio Mota, conhecido como Marquinho Mota, indigenista e coordenador de projetos do Fórum Amazônia Oriental (FAOR), tem esperança de que a Aliança Amazônica de Combate ao Desmatamento surta efeito, que ela funcione, mas acha que na prática é muito difícil.

“Vou tirar o chapéu para o governo Lula, que tem feito todos os esforços para combater o desmatamento em garimpo ilegal, mas na prática isso é muito difícil quando se tem uma aliança com o agronegócio, como o governo tem, dependente da bancada ruralista para tudo”, explicou ao Integridade ESG.

Na opinião do indigenista, a Cúpula da Amazônia foi um “grande teatro”:

“Foi um lugar para os presidentes fazerem teatro e dizerem que se comprometem com a Amazônia”, disparou.

Ele também criticou o presidente Lula por sua posição em relação à exploração do petróleo na região amazônica. Para ele, o chefe de Estado brasileiro não assume “a responsabilidade pela não emissão a mais de gás carbônico por conta de consumo de queima de combustíveis fósseis”.

“Muito pelo contrário, o presidente manteve uma posição equivocadíssima de querer explorar petróleo na foz do Rio Amazonas, enquanto todo o mundo clama por uma transição energética”, enfatizou Marquinho Mota.

Leia também

Seja ESG. Inscreva-se para receber gratuitamente notícias, informações e tendências ESG