Agricultura orgânica, uma aliada para cumprir a agenda ESG

por | out 20, 2022

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Coordenadora de estudo inédito da FGV ressalta que a expansão orgânica dever ser inclusiva e conduzida pela agricultura familiar para surtir efeitos

Um estudo inédito com recomendações para tornar a cadeia de alimentos mais favorável ao processo de conversão à produção orgânica por agricultores familiares pode ajudar o Brasil a cumprir as metas da agenda ESG. O Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVces), responsável pelo projeto, elaborou o documento Converte-se: Promovendo a conversão à produção orgânica pela agricultura familiar – Recomendações para a cadeia, construído com a participação de mais de 70 representantes de organizações e atores ligados à agenda de agricultura orgânica. O projeto conta com o apoio do Grupo Carrefour Brasil e da Fundação Carrefour.

Na semana em que se comemora o Dia da Agricultura e o Dia Mundial da Alimentação, a gestora do projeto Converte-se do FGVCes, Taís Brandão, em entrevista ao portal Integridade ESG, ressaltou que a agricultura orgânica desempenha um papel estratégico em diversos pontos da agenda ESG. O cultivo orgânico, ou seja, sem produtos químicos prejudiciais à saúde humana, combate à insegurança alimentar, reduz as emissões de gases do efeito estufa por meio da agricultura de baixo carbono e ainda minimiza os impactos das mudanças climáticas, resume a especialista.

“A agricultura orgânica é uma estratégia importantíssima para combater a insegurança alimentar. Tem o potencial de restaurar solos degradados, recuperar a biodiversidade e minimizar as emissões de gases do efeito estufa, além de tornar nossos sistemas alimentares mais resilientes às mudanças climáticas. Isso é fundamental para garantirmos a produtividade das nossas terras agricultáveis e a disponibilidade de alimentos para a população”, explica.

A administradora ressalta que a expansão da agricultura orgânica deve acontecer de maneira inclusiva para dar certo, além de ser “capitaneada pela agricultura familiar”.

“A agricultura orgânica é uma estratégia importantíssima para combater a insegurança alimentar e tem o potencial de restaurar solos degradados, minimizar as emissões de gases do efeito estufa e tornar nossos sistemas alimentares mais resilientes às mudanças climáticas”

Taís Brandão, gestora do projeto “Converte-se” do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas

“Esses produtores são responsáveis por grande parte da produção dos alimentos que consumimos, como feijão, mandioca, milho, café, arroz e hortaliças diversas. Detêm conhecimentos e práticas muito valiosos para a conservação da nossa biodiversidade, como as sementes crioulas, o manejo agroecológico, a produção diversificada que contribui para um solo saudável, e por aí vai. Eles precisam de apoio para fazer a transição para a produção orgânica, dos governos, mercados, sociedade civil”, esclarece a coordenadora técnica do documento “Converte-se”.

A agricultura orgânica representa outra oportunidade no campo financeiro, combatendo insegurança alimentar nas áreas rurais: a geração de renda.

Para que o consumidor tenha mais acesso a alimentos orgânicos — até hoje considerados produtos de nicho — é preciso apostar nos circuitos curtos de comercialização, em que os produtores vendem diretamente para consumidores, como feiras, cestas, mercados institucionais (PNAE e PAA), recomenda Taís Brandão. Outros meios com poucos intermediários, como quitandas, mercado locais e pontos próximos de onde o alimento é cultivado são bem-vindos por “diminuírem os custos logísticos e eliminarem a passagem por elos da cadeia que encarecem o produto final, além de fomentar a economia local”.

O projeto FGVces divide-se em duas frentes: articulação e campo. A articulação consiste na pesquisa e na construção, em conjunto com especialistas, das recomendações, enquanto o campo realiza oficinas com 10 grupos de agricultores familiares localizados na cidade de São Paulo e municípios do entrono, para apoiá-los no processo de conversão, obtenção de certificação orgânica e acesso a mercados qualificados.

Após o processo formativo, encontros de aproximação comercial vão envolver os agricultores atendidos e os mercados de interesse.

“Neste momento, em que estamos conduzindo as últimas oficinas do ciclo, o FGVces está iniciando os contatos com os mercados escolhidos para promover uma interação entre eles e os grupos interessados”, conta a gestora do projeto.

Os mercados selecionados incluem a alimentação escolar do município de São Paulo (PNAE), as cestas para condomínios, as feiras agroecológicas, os restaurantes e o delivery de cestas. As interações comerciais acontecem durante reuniões, visitas às propriedades, participação em eventos ou em outros formatos.

“Os agricultores familiares detêm práticas valiosas para conservar a biodiversidade e são responsáveis pelo feijão, mandioca, milho, café, arroz e hortaliças que consumimos. Eles precisam de apoio para fazer a transição para a produção orgânica, dos governos, dos mercados, da sociedade civil”

“A ideia é que as partes se conheçam, entendam as demandas, especificidades, formatos de comercialização e condições de negociação, para avaliarem juntos as possibilidades de venda”, finaliza Taís Brandão.

Recomendações para mercados, governos e escolas

As recomendações dividem-se em três temas: assistência técnica e extensão rural para a conversão; mercados adequados à agricultura familiar orgânica e em conversão e fortalecimento de políticas de fomento à cadeia de alimentos orgânicos.

Aos mercados
-Criar soluções logísticas, em parceria com outros atores da cadeia, buscando maximizar o escoamento dos produtos e minimizar custos para o agricultor;
-Criar linhas de crédito para apoiar a conversão ou a certificação orgânica de fornecedores;
-Adotar medidas nas lojas para informar a origem e especificidades dos alimentos, como sazonalidade, e o perfil do produtor

Aos governos

-Estabelecer normas mais rígidas para que os riscos e impactos negativos dos agrotóxicos sejam comunicados de maneira clara nas embalagens;

-Realizar estudos de impacto econômico que evidenciem o potencial da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) agroecológica como mecanismo de desenvolvimento e geração de riqueza para o país

Para governos e instituições de ensino

-Fortalecer os espaços nos cursos de graduação dedicados à formação em ATER agroecológica, tendo como inspiração iniciativas como a do estado do Paraná, com o Programa Paraná Mais Orgânico.

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