Somente em 2024, projeto de formação beneficiou 60 pessoas da capital paulista em situação de vulnerabilidade social, dos quais nove já estão empregados
Atuar no mercado financeiro, não é de hoje, é o sonho de muita gente. Desde o desejo antigo de ser funcionário do Banco do Brasil (pergunte aos seus avós o tamanho do status e da segurança que era ter um cargo na estatal) até as atuais e cobiçadas posições de chefe de análise de investimentos e gestor de grandes patrimônios. Naturalmente, é mais fácil um aluno formado em universidades de primeira linha entrar e se destacar em bancos e fintechs do que jovens em situação de vulnerabilidade social – de 14 a 22 anos, crescidos nas regiões mais pobres de São Paulo e filhos de mães de baixa escolaridade. Para tornar essa equação mais justa e inserir esses jovens no promissor setor, a Associação Brasileira de Bancos (ABBC) tem feito movimentos importantes em prol da oportunidade — e também da diversidade.
Em parceria exclusiva com o Espro (Ensino Social Profissionalizante), a ABBC desenvolveu a “Formação para o Mundo do Trabalho e Mercado Financeiro”, iniciativa que visa inserir jovens em situação de vulnerabilidade social no mercado de trabalho. Como signatária do Pacto Global da ONU, a associação está comprometida com o alcance dos ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, e busca impactar positivamente, através da formação, o ODS 8, do Trabalho Digno e Crescimento Econômico.

Em setembro, a ABBC concluiu a edição 2024 do programa que, só em 2024, beneficiou 60 jovens moradores da região de Itaquera (zona leste de São Paulo), preparando-os através de uma formação intensiva e presencial, para ingressar no mercado de trabalho em instituições associadas à entidade.
Mentorias, palestras e vivências práticas na Faria Lima
Ao longo do processo de formação, as duas turmas receberam grande variedade de aprendizados e passaram por diversas experiências, como mentorias, palestras e visitas imersivas aos bancos Citi (1ª turma) e Master (2ª turma), proporcionando vivências práticas em grandes centros financeiros do país nas emblemáticas Avenida Paulista e Avenida Faria Lima, em São Paulo. O Programa de Formação contou com a participação ativa de 72 voluntários de 17 instituições financeiras associadas à ABBC.
Como resultado, Sílvia Scorsato, presidente ABBC, conta que nove jovens já conseguiram emprego em associados da ABBC.
“Agora, faltam os outros 50. Além de aulas diárias durante três meses, com foco em disciplinas como matemática, comunicação oral e escrita, inteligência emocional, tecnologia básica, gestão financeira e negócios, agora vamos incentivar que os RHs das 124 associadas à ABBC, entre bancos, fintechs, cooperativas de crédito e instituições de pagamento, conheçam seus currículos e os contratem”, conta em conversa exclusiva com o Integridade ESG.
A única evasão dentre os 60 alunos foi a de um que, antes do término do curso, conseguiu um trabalho. A diversidade, observa Silvia, só traz benefícios para as empresas. Um estudo da McKinsey, recorda, aponta que a diversidade na alta liderança traz uma probabilidade de se obter 14% a mais de lucro.
“A diversidade no olhar torna a empresa mais criativa e inovadora”, resume Scorsato.
Balanço Social da ABBC inclui projeto
Recentemente, a ABBC apresentou seu mais novo Balanço Social e Comunicação de Progresso, que vai de janeiro de 2023 a junho de 2024. Neste período, foram investidos R$ 4,6 milhões em benefício da sociedade, sendo R$ 1,8 milhão por meio de doações e investimentos em projetos sociais e R$ 2,7 milhões doados em caráter emergencial nos eventos climáticos extremos. Mais de 125 mil pessoas foram impactadas. No relatório anterior, o investimento registrado foi de cerca de R$ 700 mil.
Meio milhão previstos para 2025
O desafio do programa acima é muito similar ao de qualquer outra área.
“O ponto é fazer a aclimatação. Ou seja, colocar o jovem dentro do contexto daquele mercado”, explica Alessandro Saade, superintendente executivo do Espro, instituição filantrópica que há 45 anos capacita e insere jovens no mercado de trabalho.
Por ano, 30 mil jovens conseguem seu primeiro emprego no Brasil por meio do Espro.
“Como as empresas listadas em bolsa passam, obrigatoriamente, a prestar conta de ESG, eu entendo que elas estão colocando um olhar mais cuidadoso nisso”, explica.
E em meio a um grande volume de perfis, há aqueles que se destacam. Duas jovens aprendizes, por exemplo, não só se candidataram em processos internacionais como foram extremamente bem-sucedidas.
“Uma foi vencendo concursos de discussão política na ONU e ganhou o direito de fazer essa discussão em Harvard, mas ela não tinha como ir. A gente subsidiou. A outra aluna passou em um processo seletivo em uma escola em Boston e ganhou bolsa integral da graduação de R$ 1 milhão. Ela não tinha como ir e se manter. Cada semestre custa US$ 10 mil. O Espro subsidiou”, conta Saade.
Para atender futuros jovens, o Espro pretende, em 2025, deixar R$ 500 mil separados para atender todo jovem que, por mérito, conseguir o direito de participar de algum fórum dentro ou fora do Brasil.
“Se ele conseguiu por mérito e conhecimento, não será a dificuldade financeira e o barrará. O recurso já está destinado para isso e será bem maior que os R$ 100 mil destinados este mês para isso”, comenta.
Essa iniciativa da ABBC, observa o superintendente, é muito poderosa já que uma entidade com vários bancos associados poderá potencializar a empregabilidade.
“Trata-se ainda de uma forma de ver se essa mecânica não funciona em outros segmentos. Para fazer com entidades e não com empresas.”