A agenda da instituição em torno da mitigação das mudanças climáticas é perene e promove a diversificação da matriz, mas os incentivos às energias eólica e solar, juntas, ultrapassarão em breve o montante destinado às hidrelétricas, afirma ao Integridade ESG Carla Primavera, superintendente de Transição Energética e Clima do banco
No Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES) desde 2000, Carla Primavera exerce a atribuição de Superintendente de Transição Energética e Clima há oito anos, liderando equipes que estruturam financiamentos a projetos de geração, transmissão e distribuição de energia. Em 2023, ela chamou atenção para a necessidade de mais diálogo entre os investidores e o Congresso Nacional sobre os projetos de lei voltados para a expansão do mercado de carbono, das eólicas offshore e dos subsídios à indústria.
Em conversa com o Integridade ESG durante o seminário Países do G20 e a Diplomacia dos Biocombustíveis, realizado no Palácio da Cidade, no Rio de Janeiro, evento realizado em parceria entre a Prefeitura do Rio e o Columbia Global Centers, a representante do BNDES deu detalhes sobre os financiamentos voltados para a transição energética previstos pelo banco para os próximos dois anos. As linhas principais trabalham com três segmentos — florestas, mobilidade e energias renováveis, explicou Carla.
“Toda vez que financiamos algum projeto, o incluímos em nosso inventário de carbono ou no recorte de emissões evitadas, pois há um olhar de efetividade sobre a nossa atuação”, pontuou.
Saiba mais:
Integridade ESG — O transporte constitui o segundo setor que mais emitiu gases de efeito estufa (GEE) no Brasil em 2022, de acordo com o Net Zero Readiness Report 2023. Como o financiamento do BNDES voltado para a mobilidade pode contribuir para reduzir as taxas de emissões?
Carla Primavera — Em relação às emissões no setor do transporte, entendemos que existe uma conciliação no âmbito da eletrificação e da indústria de ônibus elétricos no Brasil. É possível implementá-la em algumas cidades, como também a própria indústria de biocombustíveis, E ainda temos a possibilidade de utilizar gás para substituir o diesel. Então, temos uma combinação e uma conciliação de todas essas soluções para o Brasil. Além disso, existe a nossa missão de financiar a mobilidade das cidades para melhorar a qualidade de vida da população, a exemplo dos BRTs nas cidades.
Integridade ESG — O BNDES continuará dando prioridade à redução da pegada de carbono?
Carla Primavera — Somos o principal financiador de energias renováveis no mundo. A Bloomberg faz um ranking anual de bancos de desenvolvimento financiadores de energia limpa no mundo, no qual ocupamos a primeira posição. E levamos em consideração de que atuamos somente no Brasil. Nossos concorrentes atuam em outros mercados. O Brasil ultrapassa até a China. Afinal, o banco financiou mais de 76% da expansão da energia renovável e da diversificação renovável da matriz elétrica brasileira nos últimos 20 anos. Desde o primeiro projeto eólico, financiamos a instalação de todo o parque.
A agenda deve continuar, pois é uma agenda perene do BNDES com o objetivo de expandir as renováveis, além de todo o apoio aos biocombustíveis. A meta é alinhar o nosso balanço ao Acordo de Paris e usar o marco do ano 2030. Essa é a nossa referência, de onde vem a nossa intensidade de financiar investimentos que contribuam para a questão climática ou investimentos que tentem mitigar as questões climáticas.
Integridade ESG — Esse montante de investimento está principalmente direcionado a quais perfis?
Carla Primavera — A projetos. O BNDES tem um perfil característico de financiar projetos, muito mais do que empresas em si. Esse montante de investimentos foi direcionado para projetos de energias renováveis nos quais o banco atuou. Claro que financiamos a empresa que desenvolve um programa, mas é em função do olhar sobre o projeto a ser desenvolvido. Trabalhamos agora com a perspectiva de que teremos 10 bilhões de reais no fundo para aplicar em investimentos que contribuam para a redução das emissões de carbono.
Integridade ESG — Esse valor será aplicado durante qual período?
Carla Primavera — Será direcionado para os próximos dois anos. É o valor que corresponde à emissão de títulos verdes que o governo brasileiro fez em novembro de 2023, em dólares. O governo vai ficar com a variação cambial da cifra e o BNDES vai aplicá-la em reais no financiamento de projetos até 10 bilhões de reais, até 2026. Isso vai além das nossas linhas tradicionais. Por exemplo, o valor da carteira de energia do banco, de 160 milhões de reais de investimento, encontra-se financiado. Já não financiamos o carvão, por exemplo, há muitos anos.
Integridade ESG — Qual é a fonte renovável mais financiada pelo BNDES?
Carla Primavera — É a soma das de todas as energias renováveis. Não tem uma que receba mais financiamento. O financiamento às hidrelétricas, por uma questão de valor mesmo, serviu para um grande ciclo de expansão no Brasil. Pelo valor de investimento relevante, acaba sendo ainda mais relevante. Mas, se somarmos eólico e solar, ultrapassaremos esse montante, em breve, antes de 2030.