Em seminário sobre transição energética realizado no Rio de Janeiro pelo CEBRI, presidente do banco afirma que pedirá taxas de juros menores para linha de crédito especial no Rio Grande do Sul e que investimento na regeneração das terras amazônicas receberá cada vez mais investimentos
“A tragédia gigantesca do Rio Grande do Sul abalou de forma decisiva a convicção dos negacionistas do clima. É impossível não olhar mais o que nós temos pela frente, o tamanho do desafio que está posto”.
Assim, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, abriu o seminário Brasil 2050: Rotas de Descarbonização da Economia. onde representantes do Centro Brasileiro de Relações Internacionais(CEBRI), da Empresa de Pesquisa Energética(EPE), e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) debateram os desafios da transição energética.
“Nós vamos, segunda-feira (27/5), operar uma linha de R$ 5 bilhões no Rio Grande do Sul com todos os bancos parceiros. Entramos com o fundo garantidor de R$ 500 milhões, mas precisamos de taxas de juros menores para a reconstrução do estado”, anunciou.
Mercadante ressaltou que a agenda sustentável no Brasil começa pela Amazônia. É preciso entregar o combate ao desmatamento da região.
“É isso que vai dar liderança e legitimidade ao Brasil em qualquer debate sobre o futuro climático do planeta”, disse.
Plantio permitirá regeneração de terras degradas em quatro anos
Mercadante informou que o BNDES está alocando R$ 1 bilhão para o plantio de árvores na região amazônica. Metade vai para o Fundo Amazônia, enquanto a outra metade são recursos próprios, do Fundo Clima, com uma taxa de juros de 1% ao ano.
“Nós estamos pegando todo aquele arco do desmatamento, terra devolutas, terra degradadas, para blindar a floresta e, em quatro anos, ela se regenera. Estamos investindo fortemente nessa agenda de combate ao desmatamento. No plantio, a nossa perspectiva é chegar a seis milhões de hectares, mas nós precisamos de solidariedade”, pontuou.
Ao falar sobre transição energética, o presidente do BNDES lembrou que o petróleo tem um século de história. Ele afirmou que a indústria fóssil não vai desaparecer, lembrando que não existe um avião que voe sem combustível fóssil. Praticamente 90% do transporte do comércio mundial é feito pela navegação através de combustível bunker fóssil.
“Hoje três mil produtos dependem do petróleo. Vamos ter que conviver com isso”, sentenciou.
Empresas do oil & gas devem virar companhias em transição, defende Mercadante
Para Mercadante, o importante é que as empresas de petróleo e gás se assumam como empresas de petróleo em transição para impulsionar e acelerar os investimentos com projetos mais ousados.
“E há algumas possibilidades econômicas extremamente promissoras. O SAF (combustível sustentável de aviação) é uma delas, e no Brasil, exatamente porque nós temos meio século de etanol e de biocombustível. Metade da nossa gasolina hoje é de etanol, enquanto 14% é de biodiesel. Então, nós temos uma liderança tecnológica. O Brasil tem uma liderança no etanol do milho, que é a segunda safra, e vai permitir fazer o boi confinado e diminuir a pressão pelo desmatamento, aumentando a produtividade e a eficiência da pecuária brasileira, que é muito importante para a economia mundial”, completou Mercadante.
Cidades-esponja e outras experiências serão avaliadas para reconstruir RS
O BNDES também vai realizar uma série de seminários no banco para trazer experiências internacionais para contribuir para a reconstrução do estado gaúcho. Serão avaliadas as ações realizadas em Nova Orleans, nos EUA, em 2005, após a passagem do furacão Katrina, que deixou 80% da cidade submersa; o que foi realizado no Japão depois do tsunami em 2011; além de observar como a Indonésia se restabeleceu após o terremoto de 9,1 graus de magnitude, que movimentou bilhões de toneladas de água e desencadeou uma série de ondas na superfície, em 2004.
“O objetivo é aprender com essas experiências, pelo menos não cometer os erros que já foram cometidos e ter um programa inovador, como a Cidade Esponja. Muita coisa inovadora foi feita, respeitar as várzeas, o recuo dos rios, sistema de bombeamento. Em Nova Orleans, por exemplo, dez anos depois, os pobres não tiveram a casa de volta. Temos grandes desafios, precisamos estudar, de solidariedade e de tecnologia para a reconstrução do RS com mitigação e adaptação”, adiantou.
O BNDES tem o Fundo Clima, de R$ 10,4 bilhões, que são linhas com juros bastante convidativos para toda a transição e descarbonização.
“Temos a TR Inovação, porque quando a gente fala em rotas tecnológicas nós temos que abrir espaço para a inovação. Há muita gente pesquisando, empreendedores buscando novas rotas, novos caminhos mais eficiência, novas possibilidades. Para isso, aumentamos em 186% do financiamento da inovação nesse ano”. enfatizou o presidente do banco.