Startup de recuperação de corais impulsiona turismo sustentável em Pernambuco

por | jan 4, 2024

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Biofábrica de Corais, atuante em Porto de Galinhas, já promoveu a restauração de seis mil exemplares do animal marinho ameaçado de extinção pelo aquecimento global, integrando o engajamento em torno da emergência climática com as demandas locais

O ecossistema marinho mais biodiverso do planeta, constituído por recifes de corais, corre sério risco de desaparecer do planeta até 2070 se não for restaurado, protegido e o aquecimento global não for contido, segundo cientistas. Essas grandes estruturas de carbonato, formadas com milhões de pólipos minúsculos, cobrem menos de 1% do fundo do oceano, mas são ambientes valiosos para mais de um quarto das espécies marinhas do mundo, além de reduzir a força das ondas em até 97%, ajudando a evitar a erosão costeira e inundações.

Com os oceanos cada vez mais quentes e ácidos, a espécie está mais exposta a doenças mortais. Para mitigar esse futuro tenebroso previsto para os recifes de corais, considerados as florestas tropicais do mar, o mundo tem buscado sistemas e iniciativas diversas.

No Brasil, a Biofábrica de Corais, startup de biotecnologia que une ciência e inovação, atuante em Porto de Galinhas e Tamandaré, em Pernambuco, já promoveu a restauração de seis mil corais que estavam tombados no assoalho marinho das piscinas naturais. O trabalho inclui o desenvolvimento do turismo regenerativo, modalidade considerada de grande significação pelo seu poder de gerar renda e dar escala às atividades da startup, entre outros benefícios.

“Em um esforço pioneiro, que vem criando as primeiras soluções para a restauração de ecossistemas recifais no Brasil, a Biofábrica busca por mecanismos que façam a restauração ser integrada às demandas locais”, esclarece Rudã Fernandes, engenheiro de pesca e CEO da Biofábrica de Corais, que tem trabalhado pesadamente para consolidar o programa de turismo regenerativo na região.

Turista observa o berçário de corais.
Crédito: Filipe Cadena

Para CEO, turismo regenerativo engaja sociedade em torno da emergência climática

A Biofábrica trata as colônias de corais enfermas nos berçários para transplantá-las para novas áreas, recolonizar o ambiente e contribuir para a conservação recifal, além de desenvolver uma engrenagem que possibilite acelerar a restauração dos corais ao lado da comunidade e dos visitantes.

Segundo o CEO, o turismo regenerativo é um mecanismo de engajamento da sociedade para a cultura oceânica e emergência climática, que tem o potencial de escalar as atividades da startup e gerar oportunidades econômicas focadas na restauração.

Ainda que apresente benefícios, a consolidação do programa de turismo regenerativo, iniciado em 2018, representa um desafio para a empresa, que tem focado na criação de mecanismos para integrar a conservação com as atividades econômicas locais. Segundo o engenheiro, é preciso gerar valor percebido para que as pessoas que dependem dos corais entendam que é muito mais vantajoso preservar que degradar e “todos saem ganhando”.

Nesse processo, explica o especialista, visitantes participam de ações de conservação e restauração do meio ambiente durante a visita, cultivando uma relação mais ética e respeitosa com a natureza. A experiência envolve a comunidade local, como jangadeiros, mergulhadores, agentes de turismo e colaboradores locais.

“Queremos mostrar que é possível interagir com a natureza e voltar para casa deixando para trás uma contribuição efetiva para melhorar o ambiente que encontramos”, afirma o CEO da Biofábrica de Corais, acrescentando que conta ainda com a participação dos parceiros operacionais, como o Porto Point Mergulho e a Associação dos Jangadeiros de Porto de Galinhas.

Governo federal premia startup em categoria de mitigação e adaptação às mudanças climáticas

Um dos grandes desafios do projeto em torno da recuperação dos corais é o possível branqueamento das espécies, previsto para o verão de 2024. O fenômeno, que se dá com o aumento ou mesmo queda da temperatura da água, pode estressar os pólipos de coral, fazendo com que percam algas (ou zooxantelas) que vivem nos tecidos dos pólipos. Isso resulta no “branqueamento de coral”.

O CEO da startup, Rudã Fernandes, recebe Prêmio Nacional do Turismo na categoria
“Turismo sustentável e ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas”
Crédito: Pedro França, do Ministério do Turismo

Segundo o CEO, embora o coral branqueado não esteja morto e possa sobreviver a eventos de branqueamento, ele fica sob maior estresse, menos resistente a outras ameaças, como doenças e, portanto, mais sujeitos à mortalidade. Para minimizar o problema, é prevista a remoção de sujicidades, predadores, a instalação de coberturas contra luminosidade, alimentação exógena e transplantação em berçários em áreas protegidas ou na costa, além do mapeamento dos corais construtores com maior importância ecológica.

A experiência multidisciplinar da startup, que nasceu em 2017, rendeu à Biofábrica de Corais o Prêmio Nacional do Turismo, concedido pelo governo federal, na categoria “Turismo sustentável e ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas”. A edição de 2023, intitulada “O Turismo Transformando Vidas”, teve o propósito de identificar, incentivar e compartilhar práticas bem-sucedidas no âmbito do turismo nacional.

O trabalho, que integra todas as áreas de atuação ligadas à transplantação de corais com o turismo, captou mais de R$ 1 milhão desde a criação, para desenvolver tecnologias e manejos a fim de conservar os corais de Pernambuco.

Uso de nubbins representa inovação no processo de transplantação dos corais nativos

A principal inovação no processo de transplantação proposto para corais nativos brasileiros foi o uso de tecnologia própria com dispositivos impressos em 3D para o cultivo das mudas de corais, os nubbins, fragmentos de corais coletados no assoalho marinho, com perda tecidual de pelo menos 50%, que são cultivados e posteriormente devolvidos ao ambiente natural.

Corais Milleporas cultivados. Crédito: Filipe Cadena

Em 2023, os pesquisadores ampliaram a área de atuação para Tamandaré, também em Pernambuco. Agora, a empresabusca expandir em breve essa experiência para Maragogi, em Alagoas.

Os “biofabricantes”, como são chamados os profissionais que atuam na empresa, cultivam corais das espécies Millepora alcicornis(coral-de-fogo) e Mussismilia harttii(coral-couve-flor), no berçário em Porto de Galinhas, também conhecido como fazenda de corais.

O coral-couve-flor está ameaçado de extinção e é considerado uma das espécies construtoras mais importantes, pois sua composição pétrea ajuda a formar os recifes. Já o coral-de-fogo propicia muitos abrigos para diversos organismos aquáticos. Esse foi muito afetado pelo último grande evento de branqueamento de corais, ocorrido em 2020.

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